5 - O Infinito, o Zero, o Sempre e o Nunca

Engraçado é saber que o conceito de infinito surgiu antes do conceito de zero na matemática. Já em linguagem poética, desconfio que nasceram juntos.

Mas o infinito é diferente num aspecto importante, tanto na matemática quanto na fala dos sonhadores: existem infinitos infinitos. Zero, só existe um.

Infinitos podem ser maiores do que outros, podem conter uns aos outros. Dessa forma, se você colocar na balança antiga de um açougue um infinito num prato e outro infinito noutro prato, você não vai ter equilíbrio. Infinito menos infinito não é zero, a não ser que sejam iguais.

Para brincar um pouco com a linguagem universal da natureza – ela, a matemática – vou contar um fato: para ir em direção ao zero se faz uso do infinito. Um infinito na direção contrária ao do senso comum. Ao invés de crescer, decresce, diminuindo de tamanho pelo caminho em direção ao zero. Chama-se infinitésimo e é um tipo de infinito porque a estrada nunca chega ao zero.

Algum pensador antigo (não me recordo quem) lançou um dilema que se firmou como um paradoxo durante algum tempo. Era mais ou menos assim: se o universo é infinito, então existem infinitas estrelas. Havendo este número colossal de estrelas, o céu noturno não teria espaço para escuridão. Seria preenchido pela luz de cada estrela em cada pontinho do espaço.

Mas acontece que o céu da noite aqui na minha cidade não é assim. Ele tem muitas estrelas, poderia ter até mais se não fossem as luzes da cidade mas, com certeza, ele é mais escuridão do que brilho.

Então, quer dizer que o universo é finito. Só existe um número definido de estrelas e, em algum lugar, acaba o universo. E o que há além deste limite? Se você respondeu "o vazio", vou retrucar dizendo que vazio e nada são coisas diferentes. No vazio existe espaço, tempo, energia. No nada... bem, não há nada.

Se para além do final houver o nada, então o universo está contido no nada. Isso é possível? Pode haver um "lugar" onde não haja nem espaço e nem tempo e, mesmo assim, conter o tudo? Eu ainda não sei o que pensar disso. Prometo me exercitar sobre este tatame em outro texto.

Vamos nos concentrar na explicação do céu escuro e empurrar o problema do nada para um canto da escrivaninha.

Imagine ser o universo uma bolha espremida no meio de uma miríade de outras bolhas semelhantes. O universo seria como um favo numa colmeia de universos. Dessa forma, nosso universo particular seria finito e pronto, estaria explicada a razão do número de estrelas visíveis. Consegue perceber onde eu guardei o nada? Esta ali perto das bordas da colmeia. Pois é, não vou mexer nele.

Mas, entretanto e porém, como esforço-me para sempre lembrar a mim mesmo, a realidade é, normalmente, mais complicada do que parece.

Há o consenso, entre a grande maioria dos astrofísicos, de que não se sabe se o universo é infinito ou finito - o uso da palavra consenso aqui é intencional.

Mas, então, o universo pode ser infinito! E o problema do céu, como fica?

O universo infinito não é problema para o céu noturno. Vou explicar a solução do paradoxo.

O universo pode ser infinito, pode haver infinitas estrelas e, mesmo assim, a noite ser como é na minha cidade. O que acontece é que a luz das estrelas leva tempo para fazer a travessia de lá até meus olhos aqui. Tempo que começou a contar desde o nascimento do universo até hoje!

Como sou importante - pode pensar assim!

A maioria das estrelas ainda não teve tempo para que sua luz fizesse a viagem. Não houve tempo, pois o universo é de tamanho incompreensível para os padrões humanos. Podemos colocar em números, mas esses números são tão grandes que nós nem capturamos seu real significado.

Aprofundando-se mais ainda na física dos astros celestes: desde o nascimento do universo – outro consenso – tudo está se expandindo, aumentando de tamanho. Não é uma desculpa para alguém continuar gordinho! O espaço em si está crescendo. E há muito espaço entre a Terra e as estrelas, principalmente as mais distantes.

E o espaço aumenta mais rápido do que a luz. Sim, nada se move mais rápido do que a luz dentro do universo, mas é o próprio universo que está se expandindo: o limite da velocidade da luz é uma regra interna ao universo.

Dessa forma, a luz das estrelas mais distantes está viajando até nós, mas nunca chegará ao seu destino, pois quanto mais ela viaja, mais longo se torna o caminho.

Consequência disso é que, da mesma forma que a luz nunca chegará aqui, nossa luz também nunca a elas chegará – às estrelas mais distantes, aquelas que estão lá mas não aparecem no céu, nem por meio dos mais poderosos telescópios. Habitantes destas profundezas do espaço nunca saberão de nossa epopeia, e vice-versa.

Como é complexa a beleza da existência!

Agora, repare na relação poética de Infinito e Zero com Sempre e Nunca.

O Nunca é único, assim como o Zero. Dizer nunca é como tampar um funil pela ponta estreita. Não importa o número nem a qualidade das coisas que são jogadas no funil, o resultado é único: a barragem.

Por outro lado, o Sempre tem variações. É como o mesmo funil, mas agora com a ponta fina desobstruída. O que sai pela ponta depende do que entra pela boca. Espero que não esteja lendo no banheiro! Se a ponta está desobstruída e você joga um punhado de pequenas coisas no funil, elas passam. Se você muda o conjunto das coisas, elas continuam passando, mas o resultado é outro, pois o que você jogou agora é diferente do que jogou antes. Desde que possam atravessar a ponta, as coisas o fazem.

Então, ao contrário do funil tampado, que produz sempre o mesmo resultado, o funil aberto produz resultados diversos. É a pluralidade do Infinito refletida pela poesia do Sempre. A singularidade do Nunca ligando-se à imutabilidade do Zero.

Eu gosto de brincar com possibilidades. Algum outro pensador já afirmou uma vez que, sendo o universo realmente infinito, então as possibilidades para existência estariam esgotadas.

Isso quer dizer que, em algum lugar desta insana imensidão, há, houve ou haverá outro planeta Terra, com outro você e outro eu. Pois as chances podem ser mínimas mas, para infinitas tentativas, o sucesso é certo.

Será que há sentido nisso tudo? Poderá o pobre ser humano um dia saber os mistérios mais profundos dessa deliciosa existência? Anseio por isso, mas temo o fim do mistério. Afinal de contas, que graça tem a vida sem seus segredos?

"Infinitos sempres" para você!