As coisas estão no mundo

Aprendi com os versos de Paulinho da Viola, em seu clássico samba, “Coisas do mundo, minha nega” que “as coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”. Para Paulo Freire isso seria a leitura do mundo. É certo que grande parte das coisas que aprendemos nos são intencionalmente ensinadas. Exemplo: como resolver uma equação do segundo grau. Mas muito do que se aprende vem de um ensinamento de forma não deliberada, e que é obtido com a observação cuidadosa das “coisas que estão no mundo”. É assim, por exemplo, como o nascer e o pôr do sol de todos os dias, as mudanças das estações de três em três meses, o vai e vem das marés de mais de uma vez por dia, e tantas outras coisas que estão acontecendo por aí, independentes da nossa vontade, mas que vão nos permitindo grandes aprendizados.

Sou professor e, deliberadamente, o que ensino é com o desejo que o meu aluno aprenda. Mas tem tanta coisa que acontece nessa relação de docência que foge dessa minha intencionalidade... Só um exemplo: numa das minhas aulas, uma aluna tirou uma brincadeira com um colega. Saímos para o intervalo e no retorno essa menina pediu a palavra para se desculpar com aquele colega. Podia até ser que a outra pessoa nem tivesse se ofendido (e foi o que revelou o rapaz), mas ela refletiu sobre o que disse e se perguntou como se sentiria se aquela brincadeira fosse feita com ela. Em sua reflexão não teria gostado da própria resposta. Daí o pedido público de desculpas. É claro que não estava no meu plano de aula aquele ensinamento. Mas quem estava presente e viu, aprendeu a grande lição de humildade dada por aquela colega, mesmo sem ser a professora da disciplina.

Na relação empresarial muita coisa também acontece, e com a sua observação vamos tendo grandes lições. Como determinados chefes recebem um novo funcionário; como esse novato é acolhido no grupo; como os ensinamentos são passados; como as pessoas têm os seus erros apontados e corrigidos; tudo isso faz parte de um aprendizado que só a observação perspicaz vai permitir. E daí a pessoa vai formando a sua maneira de agir, para quando estiver vivendo uma situação semelhante. Nem é preciso, portanto, ir para uma sala de aula para se adquirir esse conhecimento. É só ficar atento.

Aprende-se também com o outro a demitir uma pessoa. O que, convenhamos, não é uma tarefa fácil. Isso porque depende de muitas variáveis. Ou seja: cada caso é um caso. Mas tem uma regra geral: a da empatia. Colocar-se no lugar do outro nesses momentos é fundamental. Se não bastasse a perda do emprego tem também (e principalmente) o lado emocional, que marca muito os indivíduos. E aí, qualquer deslize só contribui para aumentar mais ainda esse sentimento de orfandade. Só um exemplo: com a internet é comum as pessoas ao entrarem nas organizações ganharem para si uma extensão de e-mail, que é como uma nova assinatura. É o tal @.com. Está claro que, ao sair de lá, a pessoa terá que deixar, entre outras coisas, essa terminação. É legal, já que não faz mais parte dela. Mas convém que essa empresa ao término da relação de emprego envie uma informação à pessoa que está saindo que a partir daquele momento será feita a desativação do seu endereço eletrônico. Ou alguém se sentiria bem ao tentar entrar em casa encontrar a porta fechada, com os seus pertences na frente, e sem nenhum aviso? Gentileza é tudo!

Fleal
Enviado por Fleal em 12/10/2021
Reeditado em 12/10/2021
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