F... E MAL PAGA
Adrião Neto
Com a suspensão do tráfego ferroviário do trecho Parnaíba – Luís Correia, não se ouvia mais a saudosa onomatopeia café-com-pão, manteiga-não e o dolente apito ou repicar de sino da velha Maria-Fumaça anunciando sua triunfante chegada no litoral piauiense.
A estação que outrora fora movimentada, estava totalmente abandonada. A REFFESA – Rede Ferroviária Federal S/A, as autoridades e até mesmo o povo a esqueceram completamente, Polenta – débil mental, vinda do oco do mundo ou do arco da velha, soube muito bem demonstrar sua solidariedade, tornando-se em sua companheira das horas certas e incertas.
Era ali, deitada em sua calçada, sob o relento das noites frias, que cumpria sua triste sina, vendendo-se por um cigarro, uma rola de fumo ou por um cambo de peixe. Era um verdadeiro navio-escola. Os moleques faziam fila para satisfazer o instinto sexual.
A promiscuidade era imensa. Não havia o mínimo de asseio. Uns sucediam aos outros. A fila se repetia.
Enquanto Zequinha passava a perna na pobre coitada, Tião e Luizinho, discutiam:
- O próximo sou eu!...
- Não senhor, eu cheguei primeiro, a vez é minha!...
Polenta não tinha preferência. Fosse quem fosse o da vez, ela estava ali para servi-lo, pois aquela era a sua triste sina...
Adrião Neto – Dicionarista Biográfico, historiador, poeta e romancista com vários livros publicados. É o autor da ideia da inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira do Piauí e da proposta exitosa para homenagear, com estátuas, os vaqueiros e roceiros no Monumento Nacional do Jenipapo em Campo Maior, PI.