Sim, existe na humanidade um intenso desejo de liberdade, mas há um medo ainda maior que é vivê-la. Como seres significantes que somos, ao analisarmos as coisas e a realidade sempre a partir de certa perspectiva e, assim, passamos a conferir-lhe valor.
E, até conceitos completamente opostos, como a liberdade e servidão, podem se confundir conforme o prisma da análise, e tornarem-se sinônimos, conforme aconteceu no mundo distópico de George Orwell, autor de 1984, onde um dos lemas do partido é  "Escravidão é liberdade" e como um mantra é repetido até a exaustão.
É verdade que as boas distopias possuem o mérito de predizer o futuro e, assim, como na obra "Admirável Mundo Novo", "Laranja Mecânica" e "Fahrenheit 451" há sempre um ponto em comum, que é a liberdade individual tolhida, e em seguida, convertida em escravidão.
No entanto, através de mecanismos sociopolíticos, a escravidão é, então, ressignificada como liberdade, e apesar de terem sua liberdade cerceada, os indivíduos acreditam gozarem de plena liberdade.
Nas obras acima citadas, narram-se histórias onde boa parte da população está acomodada e aceita com facilidade todos os paradoxos e absurdos, porém, ainda existem os que lutam contra a ordem estabelecida. Porém, trata-se de um processo doloroso e longo é, como ousássemos sair da caverna, só para lembrar de Platão.
Para ser verdadeiramente livre, se requer responsabilidade de se enxergar o mundo sem fantasias, isto é, tal como ele é. E, ter suscetibilidade para aceitar o real e, ainda, o discernimento de distinguir fantasia da verdade. Enfim,  como a realidade é quase sempre assustadora, a ignorância se revela como benção, pois ao ignorante é fácil se deixar levar por mentiras e aceitar a escravidão como se fosse liberdade.
Há que pondere que é melhor ser um escravo feliz do ser livre e triste e, ainda amendrontado. Porém, o autoconhecimento é tarefa que só pode ser realizada por quem seja sujeito livre, vez que a gaiola é sempre limitadora, principalmente, aos desejos mais intrínsecos e inconscientes, portanto, mais latentes e autênticos do ser humano.
Por vezes, é constatável que o medo ser livre provoca orgulho em ser escravo, pois afinal, para se gozar de liberdade é indispensável a coragem e se arriscar no terreno das dúvidas e incertezas e travar luta hercúlea.
São nas gaiolas onde moram as certezas, mas é quando perdemos a capacidade de voar, pois continuamos prisioneiros de uma mente que se acovardou e prefiriu crer na contradição em ser escravo seria o maior ato de liberdade. Lembrete: não vemos as coisas como são e, sim, como somos...
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 14/10/2021
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