Você já pensou em 100 anos de história?

100 anos sim, porque desde que se nasce o ser humano começa sua história. Tem história que é tão marcante, vale a pena relembrar. Minha mãe, Maria Vitória, já viveu entre os mortais, eu não creio que vi pessoas mais francas do que essa guerreira, famosa catequista por mais de 60 anos, brava, falava o que pensava, que doesse a quem doesse, era na lata, não levava desaforo pra casa, mas, sabia ser bondosa, carinhosa, seu aprendizado foi na vida mesmo lendo ao extremo os livros orientado pelos padres, para que embrenhasse nessa missão tão valiosa de ensinar a história do mestre dos mestres que era Jesus. Professora de catecismo, autodidata, porque não estudou mais do que dois anos na escola, seu pai, meu avô não quis que ela estudasse mais, naqueles tempos dizia que mulher não era pra estudar muito. Com águas nos olhos ela relatava esse acontecimento, porque começava a exercitar sua veia poética, num relance só declamou uma poesia na sala de aula, ganhando palmas, dos assistentes entre eles algumas autoridades, depois uma medalha.

Era década de noventa, eu ávido pra continuar a biografia de minha mãe, sugerida por ela, porque queria reviver, ficar registrado, a beleza de praticar o amor às pessoas. Maria Vitória já havia passado dos seus 90 anos, mas uma lucidez incrível. Estava sentada na varanda de sua casa, dedilhando seu terço, eu interpelo:

--- nossa! Interrompi a senhora?

--- lógico que você me interrompeu, vai fazer o que! Mas não tem problema, vamos conversar.

--- então, mãe, é a biografia que temos de continuar

---ah! É a biografia que você está me enrolando, (eu disse que ela falava o que pensava) mas, Lourenço, senta aí que eu vou te explicar o certo, eu não guardei mágoa de meu pai quando ele me tirou da escola, naqueles tempos a noção geral era de que as mulheres não precisavam avançar muito, senti sim, porque gostava muito de estudar.

--- depois casar, ter muitos filhos como a senhora por tudo foram 16 e... (eu fiz uma interrupção) era assim, não é Dona Maria?

--- ah! Mas você vai me interromper sempre, assim não é possível!

--- tá bom, Dona Maria Vitória, pode continuar.

Minha mãe continuava a narrativa, ao ouvi-la, sentia era como estivesse dentro daquela inquietante história:

--- meu filho você já deve ter escrito isso no meio da biografia, mas vou repetir: - um dia minha mãe, que era sua avó, impôs sua decisão de que eu iria casar, estava com apenas 14 anos. Eu assustada dizia:

--- mas, mãe, não posso, não quero!

--- mas nada, você vai casar e já está decidido, o Luiz é um rapaz bom, trabalhador e de boa família, estou fazendo isso é para o seu bem.

--- casou e deu tudo certo, mãe, porque...

---quer parar de me interromper? (minha mãe me respondeu brava) espere apenas pra ver a mensagem que quero passar disso tudo, porque imagine você, bem novinha, na época nem sabia o certo o que era um casamento, seu pai já era mais velho tinha 18 anos, pela lógica humana seria um desastre, porque hoje em dia os casamentos os noivos já sabem de tudo às vezes casam dizendo amarem imensamente e depois de algum tempo alguns casais separam com a desculpa esfarrapada de que foi incompatibilidade de gênios. Casei, seu pai era um bom homem realmente.

--- eu sei, mãe, eu o conheci...

--- mas lógico que o conheceu, quando ele faleceu você estava com 16 anos!

--- ah! Tá louco você tem mania de me interromper!!!

Continuando então: -- meu casamento com o passar dos tempos era um desastre, nós discutíamos pra valer, a infelicidade estava visível no meu lar. Um dia ao me confessar com um padre que era meu confessor, um santo religioso. Ele me aconselhou:

--- minha filha, e quem falou que o casamento é um mar de rosas? Tudo nesta vida é uma luta, principalmente num relacionamento, cada um tem de fazer a sua parte, no seu caso procure ver nitidamente os lados positivos dele procure dar valorizar isso.

Eu fiz exatamente isso, depois foi tudo de água para vinho uma mudança completa. Lógico que alguns desentendimentos ainda tiveram, porque você me conhece como eu não tolero muita coisa, mas nossa vida realmente mudou.

E ASSIM EU TERMINO ESTA CRÔNICA. AGRADEÇO AO MEU AMIGO DARTAGNAN, E OUTROS LEITORES AMIGOS NESTE SITE QUE ME PEDIRAM PRA ESCREVER MAIS SOBRE MEUS FAMILIARES, O QUE ESCREVI AQUI COM CERTEZA ESTÃO EM OUTRAS CRÔNICAS TAMBÉM.