PELA TRILHA DO PLÍNIO SILVEIRA

A Juriti cantava alegre celebrando um feliz amanhecer na Serrinha I. A brisa que emergia fria sacodia com delicadeza as folhas das árvores próximas. Outras folhas, no entanto, desprendiam-se risonhas e aos poucos beijavam o chão umedecido pelo pouco orvalho da alvorada. A madrugada ainda havia trazido um ledo nevoeiro que agora pela manhã se dissipava e aos poucos mostrava a face de um céu azul impecável. Sim, o dia estava realmente convidativo para uma gloriosa caminhada pela trilha no Sítio Murucutu, de propriedade do Senhor Plínio Silveira.

O café da manhã posto à mesa estava fresco. O tomei em parcelas, como sempre faço, movimentando a xícara de esmalte amarronzado em sentido anti-horário na tentativa de esfriar um pouco a bebida. O Fubá estava à porta da cozinha à minha espera, gostava de passear e se aventurar no meio do mato o danado. Ajeitei os equipamentos, reconferi os materiais de campo, guardei o modesto lanche na mochila e calcei a perneira e meu “boot” encardido e destroçado por outras investidas no seio da mata.

O acesso mais próximo à trilha do Senhor Plínio era pela famosa e infeliz trilha do carrapato. Ali fui me aventurar não muito preparado psicologicamente e nem materialmente para o combate iminente. Os minúsculos ácaros logo se apoderaram de minha calça, vinham avançando feito um exército pelo tecido já surrado da vestimenta. Saí às pressas para o interior da capoeira que se dá ao longo de um pequeno curso d’água, evitando aproximações perigosas desses bichos.

Algumas paradas em meio ao morro eram inevitáveis para recuperar o fôlego e, enfim, vencer o gradiente altitudinal. Numa breve olhada para o alto, sem pensar duas vezes, saco de dentro da mochila a tesoura de poda para realizar minha primeira coleta do dia. Com o devido cuidado afrouxo o laço feito na prensa, procedo as devidas anotações e a planta logo é prensada. Trabalho feito, sorriso no rosto, restou-me ganhar o mirante, logo ali uns 200 metros a frente.

A borda do fragmento de floresta entremeado por afloramentos de rocha trouxe belas Passiflora speciosa, Sacoila lanceolata e uma tímida Anchietea pyrifolia. Estavam agora presentes na minha caderneta de campo e carinhosamente prensadas. E assim dá-se um novo ânimo ao merecido reconhecimento das belas plantas na Serra do Valentim.

Lógico, as duas trilhas presentes na floresta secundária que o Senhor Plínio Silveira e família cuidam e preservam com empenho, foram dignas das minhas preciosas coletas dia todo por ali. As vezes me deslocando por barrancos de terra solta e pelo solo coberto por extensa forração com folhas principalmente de palmito. Um belo abrigo para serpentes e outros animais peçonhentos.

Ao longo dessa semana revi diversos dos exemplares coletados na companhia do estagiário Fubá que merecia até seu nome na minha caderneta de campo, embora tendo quatro patas. Uma louca vontade de subir novamente a Serra do Valentim e explorar as minúcias de sua vegetação me fizeram as mãos palpitarem, o coração deu uma bela duma sacudida...lógico, o imenso desejo estava exposto em mim naquele momento.