Se os olhos não se fechassem...

Vivendo rotineiramente a minha volta noturna de coletivo refleti ao olhar para o lado e ver dois homens trabalhando, não era um serviço qualquer, desses ai feito a qualquer momento, ou próprios para serem feitos a noite, era serviço de obra, serviço pesado, um com a pá e o outro com o cimento, fiquei perplexo e pensei com os meus botões “Que diabos esses cabras estão construindo a essa hora?”, foi ai que tive uma explosão maior ainda, transbordei de ideias quando pensei: “ Meu Deus, pensastes mesmo em tudo”, como poderia dois homens trabalhando até aquela hora? Daí em diante tomei um rumo de pensamento bastante peculiar mas compreensível do ponto de vista geral, pensei em como seria o mundo se os homens não dormissem, o quanto já teríamos avançados se não nos fosse necessário descansar, será que já teríamos conseguido chegar a outros planetas, ou será que já teríamos encontrado a cura da AIDS, foram tantos “serás” que desci do coletivo antes mesmo do meu ponto, peguei um pedaço de madeira no meio da rua e comecei a esfrega-lo ritmadamente no chão, percebia que a madeira ia se desgastando conforme eu friccionava, fiquei ali a noite toda e o dia todo, até que o objeto de madeira desapareceu quase que por inteiro, sobrando apenas migalhas de farpas e muita sujeira ao meu redor, instantaneamente a primeira coisa que me veio a cabeça foi como um trabalho incessante pode ser concluído rapidamente, ora pois, se eu tivesse esfregado a madeira ao chão só durante o dia eu teria gasto dois dias para terminar, o que daria para lixar dois pedaços de madeira trabalhando incessantemente, antes mesmo de concluir esse raciocínio, outra ideia me veio em mente, como poderia ser eu assim tão egoísta e pensar somente em mim e no trabalho que executei, porque não pensar no pobre e frio pedaço de madeira? Foi assim que tive a revelação mais brilhante de todas as que antes foram reveladas durante minha rotineira viagem de coletivo, imagine só, todo os seres humanos trabalhando 24 horas por dia, sem parar, (coloca-se os homens no meu lugar), imagina o mundo sendo vitima de todo esse trabalho fugaz, (coloca-se o mundo no lugar da madeira), no final restaria apenas migalhas de farpas e não coloca-se nada no lugar das migalhas, pois migalhas são tudo que sobrariam de todo o trabalho, seja ele qual for, trabalhando sem parar ou parando de trabalhar, no final restam apenas migalhas...levantei-me da sarjeta e parti para mais um passeio, dessa vez apé, em busca de uma nova explicação para o que acabara de concluir, “quem se importa com isso”, “queira ou não queira tudo terá de acabar”, foi assim que parei de trabalhar, hoje, graças ao trabalho incessante da minha mente maldita, é que sou quem sou, atoa, a deriva e sem sentido, antes isso do que ser responsável pelo desgaste dessa bola que muitos chamam e a amam como terra, planeta inútil...

Vifrett
Enviado por Vifrett em 14/11/2007
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