VENENOSA

 

Coberta por um véu de santidade, ela cantava à Nossa Senhora, a voz embargada de emoção e os olhos marejados de bondade. A voz saía estudadamente lenta, macia, chorosa, tentando penetrar nas almas de seus ouvintes e comovê-los às lágrimas - o que ela conseguia. 

 

Também gostava de cantar o Hino Nacional, dando a ele uma exagerada interpretação falsamente patriótica (se a tivessem pago para cantar em homenagem ao diabo ela teria dedicado a mesma emoção, pois o que importa, é o dinheiro). A bandeira desfraldada contra o azul do céu por trás de sua imagem, enquanto ela cantava, emprestava ainda mais emoção à cena. 

 

Recentemente, ela declarou em alto e bom tom, sob o aplauso dos insensatos teleguiados e manipulados pela mídia dos ofendidos que tiveram suas verbas imorais cortadas,  o quanto gostaria de servir comida envenenada a outro ser humano. E não importaria a qual o ser humano ela estivesse se referindo, Nossa Senhora se encolheria e esconderia o rosto sob o véu da mesma forma. A língua bipartida daquela que se julga uma grande artista merecedora de financiamento do governo rasgou a bandeira verde e amarela e também o véu da santa.

 

Bastou que as tetas que a sustentavam secassem, e a máscara de bondade santa e  patriótica se quebrou, fazendo com que ela vertesse pelas suas próprias tetas o veneno que guardava dentro do peito.

 

Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 19/10/2021
Código do texto: T7366919
Classificação de conteúdo: seguro