Sacerdotes na política

Certa vez pediram para o ex-jogador de futebol Sócrates analisar o desempenho de seu irmão mais novo, também jogador de futebol, Raí. Sócrates respondeu sem exitar que seu irmão era “um craque” enquanto ele, por não ser “craque”, limitava-se a ser “técnico”.

Pelo que aprendi ao longo da vida, freqüentando igrejas evangélicas e procurando conhecer o funcionamento das outras religiões, verifiquei que nas religiões, os sacerdotes são ou se tornam líderes comunitários ao revelarem apego ao povo que o rodeia, empenhando-se de forma abnegada para encontrar solução para seus problemas, meu pai era assim. Muitas vezes ele era convidado apenas para dar sua opinião para famílias em dúvida sobre uma tomada de decisão. Um jovem de sua igreja, que se tornou bastante conhecido na denominação, certa vez pediu sua opinião sobre a moça com quem estava namorando. A opinião do presbítero foi fulcral para sua decisão sobre um assunto tão pessoal.

Durante muito tempo, nas igrejas evangélicas populares, os pastores eram escolhidos entre os membros que melhor desempenhassem papéis relevantes entre a comunidade, independente de sua formação acadêmica. Isto foi mudando como o tempo.

Mesmo não se abandonando a antiga prática de consagrar os mais empenhados, passou a concorrer com estes, os medianos, desde que tivessem algum nível educacional formal. Em seguida, com a proliferação dos cursos teológicos, mesmo que fossem “médios” (similar ao ensino médio profissionalizante) e o superior, a escolha dos sacerdotes passou a ser mais rigorosa.

É neste contexto que faço um paralelo com a análise do ex-atleta Sócrates entre “craques” e “técnicos”.

Há muito os pastores das igrejas populares deixaram de ser escolhidos entre os craques abnegados que tudo faziam por sua comunidade sem pedir ou esperar algo em troca que não fosse consideração e respeito; surgiram os técnicos e, como tais, passaram a “exigir” uma contrapartida que fosse algo mais que honra e respeito; uma remuneração adequada passou a fazer parte da recompensa.

Alguns pediam, e pedem, todos os direitos comuns aos profissionais de outras áreas, afinal são detentores de conhecimentos que se empenharam para adquirir, inclusive investiram dinheiro para tal, visto que não existe curso teológico em instituições públicas.

Há ‘picaretas’ atuando em todas as profissões, não seria nas igrejas que os tais não surgiriam, porém, eliminando estes ‘figuras’, craques e técnicos são a maioria, não fosse assim, as igrejas evangélicas não experimentariam crescimento vertiginoso nos últimos 30 anos, mas, falta algo.

Os cursos teológicos devem estar falhando nos estudos de economia, sociologia e, provavelmente história, assuntos que embasam as discussões políticas. Nossos sacerdotes têm sido uma lástima neste quesito.

Não é o caso de se posicionarem à direita ou à esquerda, é o caso de terem um posicionamento, que apesar de neutro, expressem o que seria melhor para aqueles que os financiam, afinal, a falência dos dizimistas representa a falência de suas igrejas e o fim de suas prebendas. Que sejam ao menos pragmáticos, mas, não é assim.

Grande parte dos sacerdotes evangélicos, “técnicos” ou “craques”, têm ensinado seus rebanhos a ‘acariciar as mãos dos verdugos’; uma calamidade.

Vê-se claramente que se o assunto nas igrejas for a ‘administração pública’, também conhecida como política, os craques e os técnicos, com raras exceções, jogam como ‘pernas-de-pau’.