Apaixonei-me pelo diabo, mãe!

Eu pensei que tínhamos acabado quando queimei suas cartas, quando joguei fora seus presentes, quando segui em frente com outra pessoa e li todas as mentiras que você espalhou sobre mim. Eu pensei que tínhamos acabado quando me mudei de cidade, de estado, de país, quando tive trabalhos incríveis, quando abri meu próprio negócio e tive minha estreia em um grande musical.

Não havia partícula sua em mim, nos meus dias, na minha rotina. Eu sequer penso em você com os olhos abertos.

Mas, aí eu os fecho e sonho. E tem sido uma tortura te encontrar neles, quase todos os dias. E te amar dormindo sabendo que você só me fez mal, que me feriu e me tratou como o pior dos monstros, sendo que você, meu amor, é a personificação do próprio Diabo: lindo, sedutor e perverso.

É sonhando que lembro do teu sorriso de dentes separados, dos teus pulsos finos, do cabelo cheiroso e da tua voz que, por muitas vezes, eu penso ter esquecido. Não esqueci, pelo menos não nos meus sonhos. É neles que você me pede desculpas, me abraça forte, me beija com aquela vontade que só você tinha e me diz as palavras certas, tudo o que eu quero ouvir.

E o pior é que eu ainda me sinto completamente feliz, iludida pelo Diabo como se fosse a primeira vez, como se não conhecesse todas as suas artimanhas.

Nesse sonho, uma coisa, no entanto, foi diferente dos outros: você me disse que escrevia mensagens para mim de tempos em tempos, mas nunca enviava. Então, eu te mostrava esse lugar, esse espaço aqui, no qual, desde antes de nos separarmos pela vil traição, eu dedico textos e mais textos à você. Pedaços de mim que saem e explodem em palavras, na esperança de te atingir de alguma forma.

Você se emocionou, no sonho, é claro... E me pediu desculpas por me fazer esperar tanto.

Então, eu acordei e, como de costume, quando sonho com você, vou até os seus perfis e busco qualquer sinal de que você sonhou comigo também, de que está por aí sofrendo com a minha presença em sonhos, de que ainda pensa em mim. Mas, você ainda é feliz no caminho que escolheu, como devia de ser.

O Diabo não pode ser triste, não é?

Tudo bem, o dia já começou e logo a dormência me atinge. Você não vai passar de uma lembrança esquecida num canto escuro do cérebro. Não vou pensar em nada que te relacione e nem te procurar por dias, talvez semanas...

Até o próximo sonho.