Não pode ir para a reciclagem.

A Medicina Tradicional Chinesa trabalha conceitos muito diferentes da Medicina Ocidental. Isso é evidente. Sempre me chamou atenção o conceito de energia perversa. Os chineses falam do vento, do frio, do calor, da umidade, da secura, quando em excesso, se configuram em energias perversas para nossos órgãos e vísceras.

Muitas vezes eu falo em energias perversas para situações mais amplas, envolvendo pessoas. Pessoas?? Pois é, existem seres bípedes que se autointitulam pessoas, se acreditam gente, essas coisas...

Comprei ontem um livro extraordinário, muitíssimo bem escrito, intitulado “O tempo entre costuras”, de María Dueñas – um romance que tem como pano de fundo o período entre a Guerra Civil Espanhola (1936-39) e a II Guerra Mundial (1939-45). Comecei a ler e logo no primeiro parágrafo compreendi que se trata de um trabalho profundamente humanista, um misto de cores sombrias e esperanças. Ainda não sei se esperanças vãs.

Mas o problema foi o marcador de livros. Naquele marcador existiam algumas referências a outras obras e, lá no centro das apresentações, vi o rosto (rosto não. A cara) de um ultrajante torturador da ditadura. Tratava-se de uma indicação de leitura de um livro de análise daqueles tempos amargos e sórdidos.

Reconheci a fisionomia na hora.

Com as unhas rasguei aquela sórdida imagem, fiz uma bolinha, pisei com força e desdém como se fosse uma barata nauseante, me agachei, peguei aquela coisa imunda e asquerosa do chão e joguei no lixo no meio dos restos e sujeira da varrição da casa.

Não! Aquela foto jamais poderia entrar e ficar na minha casa. Energia perversa. Energia energúmena. Não, aquele minúsculo pedaço de papel não serve para a reciclagem. Não pode ser reaproveitado para nada. Nada dali tem ligações com o Divino. Merece sim a negação da vida, da esperança, do oxigênio, da primavera.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 27/10/2021
Código do texto: T7372910
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