Memórias
A minha avó morreu numa manhã. Estávamos todos almoçando, quando ela passou mal. Entrou no carro e nunca mais a vi respirando.
Meu pai não chorou naquele dia. Ele continuou firme, o tempo inteiro. Consolava todos e parecia de ferro. Na verdade, nunca vi meu pai chorando.
Com exceção de uma manhã.
Acordei 6h, como de costume. Já haviam passado uns 2 meses que vovó tinha falecido. Passei pelo quarto que ela dormia e notei que meu pai estava sentado na cama daquela que o gerou. Ele não percebeu que eu o via. Se notasse, não faria aquilo.
Ele estava com uma caixinha e nela estavam: brincos, óculos, anéis, tantas coisas.
Tudo da minha avó.
Meu pai chorava. Chorava de forma silenciosa. Quase imperceptível.
Alguns anos depois, encontrei no antigo guarda-roupa da família, uma caixa.
Minha mãe sem pensar duas vezes disse: Deixa isso aí, porque seu pai não gosta que toquem!
Então, lembrei daquela manhã. Lembrei dos olhos do meu pai.
Deixei a caixa no mesmo lugar e não tive coragem de abri-la.
Deixei aquelas memórias para que meu pai pudesse eternamente ser curado por elas.
Acho que está lá, até hoje.