Memórias

A minha avó morreu numa manhã. Estávamos todos almoçando, quando ela passou mal. Entrou no carro e nunca mais a vi respirando. 

Meu pai não chorou naquele dia. Ele continuou firme, o tempo inteiro. Consolava todos e parecia de ferro. Na verdade, nunca vi meu pai chorando.

Com exceção de uma manhã. 

Acordei 6h, como de costume. Já haviam passado uns 2 meses que vovó tinha falecido. Passei pelo quarto que ela dormia e notei que meu pai estava sentado na cama daquela que o gerou. Ele não percebeu que eu o via. Se notasse, não faria aquilo.

Ele estava com uma caixinha e nela estavam: brincos, óculos, anéis, tantas coisas.

Tudo da minha avó.

Meu pai chorava. Chorava de forma silenciosa. Quase imperceptível. 

Alguns anos depois, encontrei no antigo guarda-roupa da família, uma caixa. 

Minha mãe sem pensar duas vezes disse: Deixa isso aí, porque seu pai não gosta que toquem!

Então, lembrei daquela manhã. Lembrei dos olhos do meu pai.

Deixei a caixa no mesmo lugar e não tive coragem de abri-la. 

Deixei aquelas memórias para que meu pai pudesse eternamente ser curado por elas.

Acho que está lá, até hoje. 

DaviCampos
Enviado por DaviCampos em 27/10/2021
Reeditado em 27/10/2021
Código do texto: T7372933
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