A Reprimenda do irmão

Muito embora os seis irmãos tenham nascido na zona rural do município de Glória, à margem direita do rio São Francisco, estado da Bahia, três deles foram registrados na cidade vizinha, Petrolândia, bastando para isso, atravessar o rio.

Fora do habitat, o que vale é o documento. E na minha identidade consta que sou petrolandense.

Já morando em Maceió, resolvi escrever um livreto, no estilo de cordel, com o título Belezas de Maceió, falando das belas praias e lagoas.

Na primeira página, em duas estrofes, a minha apresentação:

Eu sou de Petrolandia

E moro em Maceió

O Paraíso das Águas

De lagoas ao redor

Caminhar em sua orla

Faz minha vida melhor

Foi na década de setenta

Que cheguei em Alagoas

E se aqui eu fiquei

Não foi por motivo à toa

Dos lugares que passei

Nunca vi terra tão boa

Sem nenhum cunho comercial, o livreto se destinava a amigos e parentes. Um dos meus irmãos, o que ainda mora no sertão da Bahia, e cujo registro foi de fato na terra natal, ao ler a primeira estrofe, já foi logo contestando: "como é que o cara nega a sua origem, a sua terra natal?"

E disse que parou por ali e nem quis mais ler o resto.

Por mais que eu tentasse explicar que lá fora o que vale é o documento, o homem não se convenceu.

Vou ficando com essa minha dupla naturalidade: uma de fato e outra de direito. Querendo ou não, o que vale é a do registro. Sou petrolandense, sim senhor.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 02/11/2021
Reeditado em 02/11/2021
Código do texto: T7376745
Classificação de conteúdo: seguro