A Reprimenda do irmão
Muito embora os seis irmãos tenham nascido na zona rural do município de Glória, à margem direita do rio São Francisco, estado da Bahia, três deles foram registrados na cidade vizinha, Petrolândia, bastando para isso, atravessar o rio.
Fora do habitat, o que vale é o documento. E na minha identidade consta que sou petrolandense.
Já morando em Maceió, resolvi escrever um livreto, no estilo de cordel, com o título Belezas de Maceió, falando das belas praias e lagoas.
Na primeira página, em duas estrofes, a minha apresentação:
Eu sou de Petrolandia
E moro em Maceió
O Paraíso das Águas
De lagoas ao redor
Caminhar em sua orla
Faz minha vida melhor
Foi na década de setenta
Que cheguei em Alagoas
E se aqui eu fiquei
Não foi por motivo à toa
Dos lugares que passei
Nunca vi terra tão boa
Sem nenhum cunho comercial, o livreto se destinava a amigos e parentes. Um dos meus irmãos, o que ainda mora no sertão da Bahia, e cujo registro foi de fato na terra natal, ao ler a primeira estrofe, já foi logo contestando: "como é que o cara nega a sua origem, a sua terra natal?"
E disse que parou por ali e nem quis mais ler o resto.
Por mais que eu tentasse explicar que lá fora o que vale é o documento, o homem não se convenceu.
Vou ficando com essa minha dupla naturalidade: uma de fato e outra de direito. Querendo ou não, o que vale é a do registro. Sou petrolandense, sim senhor.