Luana I

Já passava de 20 h e ela ainda não havia dado notícias. Eu não queria mandar mensagem de novo para não parecer desesperada, mas se você me visse naquele momento saberia que o desespero estava corroendo meus ossos vagarosamente como uma praga silenciosa.

"Será que ela não vem?!"

A ideia de não vê-la hoje me parecia dolorosa. Às vezes não nos encontrávamos por longos períodos, mas quando combinávamos um café era como se uma saudade adormecida começasse a me morder por dentro

Minha boca estava com um sabor amargo. Eu não deveria pedir comida antes que ela chegasse, mas já era a terceira cerveja que eu bebia. Decidi pedir uma batata frita.

Quando o garçom se afastou com meu pedido pude avistá-la se aproximando. Ela vinha com uma mini saia jeans e uma camiseta de malha vagabunda bem colada no corpo que marcava cada centímetro do seu tronco e deixava a parte inferior da sua barriga aparecendo. Ninguém poderia se vestir assim e ficar mais perfeita!

Sabe quando você assiste aqueles filmes água com açúcar na TV e a mocinha do filme aparece na primeira cena? Quando ela chega é assim: Todas as outras pessoas se tornam figurantes, ficam meio desfocadas. É como se perdessem o brilho próprio porque estão ofuscadas. Os homens a olham encantados, como se ela fosse uma divindade , um tesouro precioso. As pessoas a olham com adoração!

E então ela se aproximava, andando no meio das mesas em direção a mim, me olhando com aqueles grandes olhos e sorrindo sem se dar conta de quem é e de que só de adentrar naquele ambiente todas as outras pessoas perderam o brilho.

- Ai, mulher, desculpe o atraso! Você esperou muito ?

- Não. Imagina…Eu também me atrasei. Cheguei na hora em que te mandei aquela mensagem.

- Você me mandou mensagem?! Eu não vi. Acho que esqueci meu celular no silencioso.

Não era verdade. Eu chegara às 19h, como havíamos combinado. Mas esperara meia hora até lhe mandar uma mensagem perguntando se ela havia esquecido do nosso encontro: não quisera parecer grudenta.

Luana não gosta de pessoas pegajosas.

Ela é uma alma totalmente livre que não suporta sentir-se em um relacionamento pegajoso. É necessário ter cuidado para não afastá-la ao mesmo tempo em que é preciso demonstrar que se importa. Qualquer movimento brusco pode espantar Luana, mas qualquer sinal de indiferença pode magoá-la. Por isso eu precisava ser sincera nas grandes questões, mas falar algumas verdades com cuidado, para que ela não percebesse quanta influência possuía sobre mim e o quanto eu vivia sob a expectativa de ser o centro de sua atenção.

O que não significa que Luana fosse um ser superficial ou que nossa relação fosse frágil. Ao contrário! Ela era intensa, verdadeira, muito honesta e quando estava envolvida com alguém se doava completamente. Isso era uma das coisas que eu mais amava nela: a capacidade de derramar sua alma inteira como uma cachoeira torrencial.

Luana era exatamente assim, uma força da natureza. Exuberante, naturalmente linda. Esse tipo de mulher que não precisa fazer esforço para deslumbrar e sequer se dá conta disso. E não estou falando apenas de sua pele impecável ou de seus lindos cabelos e também não me refiro ao corpo maravilhoso que ela tem. Não me pergunte o porquê de Luana despertar em todo mundo um sentimento que vai da admiração à cobiça. Às vezes eu acho que minha missão é não deixá-la esquecer do quanto é incrível e ao mesmo tempo lembrá-la de se proteger das pessoas que não conseguem lidar com o efeito que ela causa.

O que sei é que mesmo após décadas de convivência ainda me pego olhando pra ela incrédula: não sei porque essa mulher fantástica me escolheu para ser sua confidente, sua melhor amiga. Apesar de laços de sangue não nos unirem, ela tem tantas amigas e até mesmo uma irmã que poderia ter elegido como sua preferida. Saber que sou eu a sua escolhida me deixa estranhamente envaidecida e tensa - como se eu não fosse merecedora de seus afetos.

Eu me envergonharia de admitir essas coisas se não estivéssemos falando de Luana. Quando ela está envolvida, nada é simples de explicar.