Tema de Redação | [F2Y] EF - LENDA URBANA - O HOMEM DO SACO | Plataforma  Redigir

 

Havia um homem que apenas um saco carregava...

 

Zé do Farrá, como era conhecido na pacata cidade do interior do velho Goiás.  Andava o andarilho pelas ruas solitário seguido pelos seus fiéis amigos de jornada, seus cães vira-latas. Nas costas, carregava um pequeno saco de pano já puído pelo tempo. Nele continha fragmentos de sua triste sina. Eram objetos que ele os encontrava em suas andanças, alguns trapos novos, desapegos postos fora e que ele abraçava como se fizesse parte de seu mundo.

 

Sua história é a mesma de todos os andarilhos. A família, não se sabe se ele a abandonou, ou foi por ela abandonado. Mas ele continuava seu caminho diariamente, na mesma trilha, como se estivesse em uma longa jornada sem um destino certo. Nas ruas, quando o avistavam, criaturas evitavam passar perto, passavam pela calçada de cima com seu orgulho em riste. Mas, dentre as criaturas existem as que têm a pureza das almas capazes de amparar os irmãos carentes de amor e de compaixão. Um homem simples, trabalhador, casado com uma mulher também solidária, dispostos a ajudar sem olhar a quem. Naquela pacata cidade, o casal o acolhia em seu lar dando-lhe um lugar à sua mesa de refeições para repartir o pão da fraternidade, como ensina Deus nos seus mandamentos. Poucos entendiam aquele ato e ainda nos dias atuais muitos não entendem.

 

Talvez por desconhecer a origem do orgulho que encobre os corações, não entendemos a miséria do outro até vivenciarmos a nossa. Ainda não aprendemos a estender a mão àquele que se encontra caído. O mundo já provou que dá voltas e as voltas são mais dolorosas quando percebemos que o caminho já foi para nós mostrado. É irônico, às vezes, pensar que queremos deixar para nossos filhos um mundo melhor, sem guerras, sem ódios, sem desamor, quando, na verdade, praticamos os mesmos nos lares. O que levaremos daqui para o outro mundo validará a nossa entrada para o paraíso de nossas boas ações ou para o inferno de nossos repetidos erros...

O Zé do Farrá carregou seus fragmentos recolhidos em cada chão trilhado até o fim de seus dias. Que esteja ele no paraíso por pagar os seus pecados.

 

E você? O que carregas em teu saco hoje dá para garantir uma boa estadia no céu?

Ficarei na torcida por você, por mim e por todos nós. 

 

(Simone Medeiros)