Atitude é tudo quando se quer defender algo

Sempre chegava cedo ao colégio, antes que todo mundo porque não gostava de ver as pessoas me olhando como se nunca tivesse me visto. Nessa época eu era gordinha, então está aí o motivo da vergonha. Não que eu fosse tímida, porém, não me sentia confortável com a minha aparência. Era março de 1991, estava na 1° série do Ensino médio e todos da sala eram novatos, fomos nos conhecendo aos poucos. Nunca fui de muitas amizades, contudo, consegui fazer mais amigos do que imaginava.

Tudo ocorria consideravelmente bem, até que um grupinho de seis meninos se formara para infelicidade de alguns. Eram uns bagunceiros, gaiatos e desprovidos de inteligência. Por qualquer motivo eles arranjavam brigas desnecessárias causando alguns conflitos. Quanto a mim, procurava manter distância deles, evitando assim, uma série de problemas. Sempre tive um gênio forte, nunca gostei de injustiça. Se fosse necessário defender alguns dos meus amigos, iria com unhas e dentes. E não demorou muito para que isso fosse posto em prática.

O desentendimento começou quando Rivaldo, o único negro da sala, passou a ser motivo de chacotas desses otários. Vez por outra, algum deles soltava uma indireta racista incomodando que estivesse próximo. Não fazíamos nada, apenas nos afastávamos. Mas, o limite da minha paciência esgotou-se quando certo dia, estávamos no intervalo, e antes mesmo do encerramento, resolvi ir para sala. Chegando lá, deparei-me com uma situação horrível. Haviam colocado afixada na lousa uma fotografia de um político pintada de caneta preta. Além disso, estava escrito em letras de forma o nome “RIVALDO’. Fiquei muito furiosa, pois tratava-se do meu amigo. Como eu havia chegado primeiro, ele ainda não tinha visto. Porém, antes mesmo que pudesse fazer algo, ele entrou e ao ver o que fizeram, apenas baixou a cabeça e sentou-se. O grupinho, simplesmente, ria da situação.

Aquilo comoveu-me demais, e obviamente agi como uma leoa defendendo seu filhote. Fui em direção a lousa e arranquei aquilo com tanta agressividade que, repentinamente, houve um silêncio sobrenatural na sala. Senti o peso dos olhares de todos as minhas costas. Pela primeira vez, tive coragem de encarar os que, mesmo não aprovando o que fizeram, ficaram calados. Perguntei:

- Acham bonito que um grupo de desordeiros façam chacotas do nosso amigo por ser preto? A cor da pele em nada interfere na conduta de ninguém. Vejam, são todos mestiços, amarelos e branquelos, totalmente desrespeitosos, burros e irresponsáveis; estão bem felizes nas agressões ao meu amigo cuja a cor da pele os incomoda tanto.

Dito isto, dirigi-me para a sala do diretor. O mais incrível, foi que ao passar pela porta, a turma toda, com exceção do “grupinho”, foi atrás de mim.

E final da história: pressionado pelos alunos, o diretor foi obrigado a puni-los desestabilizando totalmente os “bagunceiros” e a partir de então, uma equipe antirracismo foi criada naquele ano na escola.

DÉBORA ORIENTE

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 07/11/2021
Reeditado em 16/03/2024
Código do texto: T7380819
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.