Desventuras do Destino

Era uma vez um sonho. Todos dizem para seguir os nossos, não é mesmo? Lutamos por aquilo durante toda a vida. Fazemos vários sacrifícios, pois sabemos que a glória da realização é para poucos, somente para os que realmente se esforçam. Até o dia no qual a felicidade fica tão palpável e todos começam a dizer que estamos no caminho certo, que nosso destino inclui isso. “Você é um sortudo, vai conseguir aquilo com o que sempre sonhou”, nos falam.

 

De repente, às vésperas da nossa grande realização, sequestram-nos e quebram-nos. Nós, que estávamos à dois centímetros da linha de chegada da satisfação, somos puxados. Não para a linha de partida, de onde nós, com nossa grande força de vontade, poderíamos recomeçar e chegar lá novamente. Mas sim para longos quilômetros do local da corrida e ainda nos acorrentam a um poste, para que não possamos voltar.

 

Nossa nova condição deplorável faz-nos odiar-nos e tornarmo-nos pessoas invejosas e amarguradas. Não conseguimos mais ser gratos pelas outras coisas que queríamos e conseguimos, porque aquela que nos fazia levantar da cama de manhã nos foi tirada injustamente e dada a outras pessoas que nem sequer a queriam.

 

Estávamos no caminho da direita, todos felizes, e tivemos que voltar com desgosto. Poderíamos pegar o caminho da esquerda e talvez ter sucesso, porém nunca quisemos isso e nunca vamos querer. A única opção para continuar nessa vida era seguir pelo monótono caminho do meio, aquele sem nenhuma ambição, o caminho da desistência.

 

Nós olhamos o caminho da esquerda só querendo termos sido avisados mais cedo, para que pudéssemos sonhar com ele e chegar mais perto da felicidade. No entanto, sabemos que não seríamos felizes. Talvez pudéssemos nos enganar, todavia sentiríamos falta daquilo que dá sentido à nossa vida. Seria uma existência mecânica, possivelmente pior em comparação a que seremos obrigados a levar a partir de amanhã. Pelo menos, pudemos aproveitar um pouco do nosso sonho e conhecer o prazer de praticá-lo, mesmo sendo por tempo limitado.

 

Se nos serve de consolo, (não serve) não somos os únicos. Ao voltar todo o caminho da direita para poder trilhar o do meio, pode-se ver aqueles que voltam da trilha da esquerda com a mesma dor. Eu sei, você os acha loucos por terem tudo o que sempre quisemos e sentirem-se infelizes. Ah, se pudéssemos trocar...

 

Mas não podemos, pois é mais fácil achar dois infelizes que um feliz.