Entrevista de Emprego

A bilionésima entrevista farei amanhã. Meus dedos estão coçando para mandar sifudê estes entrevistadores. Minha vontade é mentir a eles à partir de agora, já que ser sincero e não omitir-se em questões espinhosas não adiantou, não me fez conseguir vaga nenhuma. Só que eu não tenho coragem, porque senão diria que tive uma experiência na função de rei da Espanha durante três anos e dois meses para ser preciso. Quando não inventam de pedir mil coisas: infinitos testes de personalidade, de raciocínio lógico, de Fitch cultural com a empresa, dentre muitas outras inutilidades cansativas, afirmo convicto que alguns destes testes são vexatórios e que se dependesse de mim seriam descartados para sempre.

Ou até ao cúmulo de fazer-nos enviar um vídeo de dois minutos nos apresentando, alguns destes malévolos e sórdidos recrutadores chegam até mesmo a sugerir uma pauta, por exemplo, “diga sobre o que você gosta, fale sobre sua formação acadêmica, invente uma vida cheia de vitórias, seja um monstro de positividade, crie cursos e pós graduações imaginários”.

Mandarei um vídeo a estes canalhas no qual aparecerei inteiramente nu, calçando apenas minhas adoráveis meias pretas de puro algodão. Comendo uma banana, não direi palavra. Atrás de mim verão lombadas de livros sobre astrologia, harpas eólicas e contos russos. Olharei para a câmera (representando os olhos vermelhos de meus inimigos, recrutadores e afins). Na minha vitrola Orpheus tocará como pano de fundo, parte da trilha sonora de um filme violento, a canção Where is my mind.

Nos últimos segundos trarei o gran finale, o desfecho mais perturbador que estes desalmados já viram em suas seleções empregatícias. Após comer toda a banana e jogar a casca no chão, despejarei essência de cavalo em meu pau cheio de veias inchadas e espalharei por todo o corpo cavernoso, então, meus olhos os encararão, meio que querendo deixar o recado: “mandar vídeo é o meu caralho!”.