PAPO DE DEUSA

O sol brilha no RJ.

Começo a pôr a cabeça acima do charco que o coração me enfia de vez em quando, quase sempre.

Não sei se você sabe, mas não tenho paciência para crises de nenhum tipo, principalmente se elas se prolongam, deixando de serem crises para tornarem-se estados crônicos. O único problema crônico que levo vida a fora sou eu mesma. Doce problema quando se tem um Prozac ou Rivotril à mão. Em tempos bicudos, remédio pra levantar o astral é escrever e ir à praia... Em casos extremos encher a cara, mas isso não combina com tarja preta. Por isso, segundo os meus amigos da empresa paulista onde eu trabalhava até um dia desses, não sobreviveria em Sampa. Será que eles não me queriam por lá?

Por isso fiz um voto, que mais do que de pobreza é de alegria. Fiz a opção pelo mar quando, por deixar de ir pra Sampa, terra abençoada sim, pero sem mar, perdi o bom salário que lá poderia manter. Fiquei aqui, meio sem grana, mas rindo de frente pro mar!

Logicamente que para as crises agudas o pró-seco me consola e a cerveja me refresca. Resumindo: Troquei um bom salário em Sampa, por uma carioquice despojada. Churrasco o dia inteiro por “der-reaish”, roupa de grife do Camelódromo da Uruguaiana onde tem também ipod, mp3, mp4, tênis e óculos transados. A gente vai refrigerado pra praia de metrô e diante daquela paisagem não há stress que não se dissolva!

Assim sendo, grana não é prerrogativa pra deusas, desde que elas sejam inteligentes - as burras que me perdoem mas elas não são deusas.

Diti isto, tô feliz! Fiz as pazes com my love e garanti a minha temporada de sexo seguro e de primeira para o feriado que se aproxima!

Viajar? Pra quê? Engarrafamento não é coisa de quem quer se divertir, a menos que a gente possa expulsar do ônibus os de mal-humor que vão resmungando viagem-via-engarrafamento-a-fora.

Na última viagem que fiz o casal que comprou poltronas separadas, não queria ceder o lugar que constava na minha passagem e eu, queria tanto viajar junto que comprei antecipadamente um busão que sairia muito mais tarde do que eu gostaria e ainda tive que me aborrecer. Na volta, a senhora idosa, achou que por ser idosa poderia escolher a poltrona mais conveniente: a minha!

Coisas poucas, mas que não pertencem a um quadro de quem quer relaxar e se divertir no feriadão. A gente pode aproveitar a moda e pôr “na conta do papa”, mas ele também não vai pagar. Quem disse que é fácil a vida de uma Deusa Urbana? Não bastasse o salto alto que se encaixa com precisão nas pedras portuguesas dos calçadões cariocas, a obrigação de ser loura, sarada e lindíssima...

Que a Grande-Mãe nos ajude! Que ela também não tenha se retirado no feriadão.

Deusa Urbana
Enviado por Deusa Urbana em 15/11/2007
Reeditado em 02/10/2017
Código do texto: T738441
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