Meu sonho de menina

Meu sonho de menina, era ser bailarina escolar. Eu só queria participar do desfile de 7 de setembro sem o uniforme escolar usado durante todo o ano.

Queria muito ir no pelotão de acrobacias, jogando o bambolê para o alto ou quem sabe, sendo a bailarina que fazia as demonstrações à frente da banda de música. Mas… para qualquer uma dessas apresentações especiais era preciso ter roupas especiais.

Mamãe comprava os nossos uniformes com uma certa dificuldade. Nunca deixamos de ir à aula por não ter a “farda” mas comprar roupa para usar apenas uma vez… seria muita despesa e estava além das nossas necessidades primordiais.

Nos ensaios para a marcha escolar, eu tinha a esperança que alguma professora me oferecesse de presente o uniforme de saia de tule, meia calça, sapatilha e collant, mas isso nunca aconteceu, e lá ia eu, anos após anos desfilar de uniforme. Saia plissada azul marinho, blusa branca em tricoline , tenis tipo Conga maior dois números que os meus pés (segundo mamãe para dar por muitos anos) e meias brancas.

Toda a família se reunia para me ver desfilar. Quando eu passava na avenida, ouvia o meu nome sendo gritado e as palmas ecoando. Minha família estava ali para me ver passar, e eu, passava por eles com a cara amarrada, imaginando que aquele seria o último desfile usando o uniforme comum, que no outro ano eu ganharia um outro diferente e seria a bailarina que puxa o pelotão.

Os anos se passaram… nunca ganhei o uniforme, continuei a desfilar de farda comum, mas isso

me serviu de aprendizado. Sonhar é preciso, realizar o sonho é outra coisa!

Os “nãos “ que ouvi sempre foram motivados.

Em casa não havia muito “conforto” , mas o amor dos meus pais me tornaram rica de afetos.

“A bailarina

Esta menina

tão pequenina

quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré

mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá

Mas inclina o corpo para cá e para lá

Não conhece nem lá nem si,

mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar

e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu

e diz que caiu do céu.

Esta menina

tão pequenina

quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,

e também quer dormir como as outras crianças.

Cecília Meireles