Viajando pela música

Para tudo há uma canção. Para o amor, para o desamor. Para começar, para terminar. Para louvar, para condenar. Para dormir, para acordar. Para divertir, para trabalhar. Para animar e até para relaxar. As modinhas atendem a tudo e a todos, mais democrático não há. Alguns fazem ressalvas tipo “vou fazer a louvação, do que deve ser louvado”, reservando as palavras e os versos apenas para o que “bem merece, deixando o ruim de lado”. Outros se espelham no poeta que, após dizer que “minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá” complementa com “todos cantam sua terra, também vou cantar a minha” e versejam “Bahia, terra da felicidade” enquanto outros afirmam que “existem praias tão lindas cheias de luz”, mas “nenhuma tem o encanto que tu possuis”, decretando por fim a “Copacabana, princesinha do mar”. Parece não saber que “com o amanhecer a ponta do Cabo Branco em ouro se torna”, fazendo inveja a qualquer Midas. Mas a conversa pode até se alongar, mas a palavra final é que “o melhor lugar do mundo é aqui, e agora”.

Uns cantam o amor afirmando que “meu bem querer é segredo, é sagrado” e, por isso mesmo, “está sacramentado em meu coração”. Outros, por não viver sem este amor, imploram “chega mais perto, meu raio de sol, a minha casa é um escuro deserto, mas com você ela é cheia de sol”.

Alguns conversam entre si, a partir do trivial “como vai você?” invadindo a intimidade com “eu preciso saber da sua vida”. O outro tira por menos aludindo apenas à falta de contato: “amigo, há quanto tempo”. E como são chegados as revelações não demoram a acontecer: ”Rosa acabou comigo”, seguida da surpresa do outro: “meu Deus, por quê?”. A resposta: “nem Deus sabe o motivo”. Vendo a dor do outro, a tentativa de consolá-lo minimizando “porque tudo na vida acontece” e “o amor da gente é como um grão, tem que morrer pra germinar”. Até estimula uma catarse: “chora, disfarça e chora, aproveita a voz do lamento que já vem a aurora” e procura deixar barato, inventando que “já tive mulheres de todas as cores, de várias idades de muitos amores”, mas que tudo ficou pra trás. O que importa agora é a garota que encontrou no Tinder. Quer saber? “O nome dela é Jennifer”.

As mágoas de amor não param por aí, revelando a crueza dos términos, começando por “vá, se mande, leve tudo o que você quiser levar, passando por “risque meu nome do seu caderno, já não suporto o inferno do nosso amor fracassado”, até o aviso deixado na portaria do prédio de que “esse homem que está aí, já não pode mais subir, está proibido de entrar”.

Mas não só de amores e desamores vivem as canções. As reflexões também tomam conta delas. Depois de muito ter vivido chega-se à conclusão de que “um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria”. Dificuldades certamente continuarão a surgir, mas a certeza de que “e se diante de mim não se abrir o mar, Deus vai me fazer andar por sobre as águas”, muito ajudará. O importante é seguir com calma com a certeza de que “ando devagar porque já tive pressa”, olhando em volta, vivendo e aprendendo, cada vez mais convicto de que “já não posso aceitar sossegado, qualquer sacanagem ser coisa normal”. O que importa é ficar com a “pureza das respostas das crianças” , porque, afinal, “a vida é bonita e é bonita”. E “salve o compositor popular”.

Fleal
Enviado por Fleal em 24/11/2021
Código do texto: T7392876
Classificação de conteúdo: seguro