ABIGAIL
O vento brinca com a cabeleira ruiva de Maria Clara enquanto leva pelas areias da praia o seu chapéu colorido. A menina se aproxima, pés descalços, mãos cheias de areia e entrega o belo chapéu para a executiva.
Nesse momento, Maria Clara relembra um acontecimento semelhante ocorrido a várias décadas.
Escola Santa Tereza. As meninas correm ao toque da sineta anunciando o recreio. Na escadaria alta, descem primeiro Rosalia do Porto e sua irmã. Vindo logo atrás Maria Clara e Abigail. Nessa hora o vento arranca o pequeno chapéu da cabeça de Rosália.
Maria Clara vê Abigail, prontamente, correr, recolher o chapeuzinho e o entregar à Do Porto, a menina rica.
Novamente a sineta toca. Todas retornam a seus lugares menos a pequena Abigail. A seguir, a menina entra e revela ter ido à sala da supervisora, onde lhe é chamada a atenção pelo fato de ter se curvado e apanhado o chapéu da colega. Conta ainda que foi lembrada de que tendo ambas a mesma idade, deveria, portanto, Rosalia recolher o seu pertence.
A lembrança acima permaneceu muito tempo na memória de Maria Clara, debatendo se para entender se a atitude de Abigail, na época, foi um ato de subserviência ou um ato de amor ao próximo ensinado a mais de dois mil anos?
E até que ponto o ocorrido trouxe consequências para as vida adulta de Abigail?