Você tem fome de quê?

Do lado do balcão do lanchonete um homenzinho franzino escuta a música que vem de fora. Balança a cabeça como quem está concordando com o que houve. Entre uma mastigada e outra nota-se o bolo alimentar descendo no tubo da garganta. O atendente pergunta se ele deseja mais alguma coisa, ao que ele responde: você tem fome de quê? O atendente não entende o que se passa.

Terminado o lanche, o homenzinho estica o pescoço em direção à porta de saída na tentativa de ouvir mais uma vez a quela música. O som , correndo mais que o vento, já estava virando a outra esquina da rua. Era um desses bicicleteiros que passa o dia rodando propaganda do comércio em volta de um pequeno território. Pagou a conta e saiu correndo, ainda mastigando. Parecia estar resoluto para recuperar aquele som; aquela mensagem.

Depois da busca frenética ele percebeu em sua volta pessoas com fomes variadas: fome de comida, fome de incertezas, fome de conhecimento, fome de amor humanitário, fome do abraço, fome do olho por olho. Reparou que ali havia pessoas com fome de ver suas famílias que tinham deixado em casa desde o quebrar da barra.

foi nesse instante que o homenzinho da lanchonete entendeu que a a canção dos bicicleteiro era uma letra dos Titãs e fazia interrogações e uma delas martelava sua cabeça: "você tem fome de quê"?