UMA CANJA INDIGESTA

Um colega me convidou pra formarmos uma banda  fazermos uma turnê que se apre-sentaria   desde   o nosso Estado até Reci-

fe.

Não sei porque razão a turnê foi suspensa quando estávamos em São Paulo.

Os músicos se dispersaram. Uns ficaram em São Paulo.Outros foram pra Porto Alegre.

Ficamos eu e o Geraldo, que era contrabai- xista. sozinhos. Não queríamos voltar a Porto Alegre.

Decidimos ir pra Curitiba.

Eu tinha guardado algumas econonomias que serviram pra      nossa sobrevivência. Nossa alimentação eram salsichas e pão .

Nos fins de semana comíamos os pasteis do chinês que tinha um recheio  e um tamanho   substancial acompanhado por uma coca- ca-cola grande.

Saíamos todas as noites pra darmos canjas nas boates. Certa vez fomos numa boate que tinha uma escadaria íngreme que servia de entrada e saída pra aquela casa. Lá trabalhava o Pirata que tinha sido baterista do Conjunto     do Breno Sauer. Foi ele que  inter-

mediou a nossa canja.

Comecei a cantando uns boleros do Repertório do Roberto Yanes, como La puerta,Escribeme e outros.

Fui muito aplaudido porque naquele lugar encontravam-se muitas mulheres paraguaias.

Os músicos, entusiasmados, disseram:

“ – Gaúcho, nós vamos falar com o homem pra você trabalhar aqui!

Ficamos felizes, porém a alegria durou pouco.

Estávamos sentados eu e o Geraldo quando de repente ouvimos um tiro. Logo em seguida mais um. Instintivamente nos jogamos embaixo das mesas.

Foi um alvoroço tremendo.

No mesmo instante ouvimos um grito    de

mulher:

“ – Mataram meu marido!”

Apavorados esperamos que o recinto ficasse vazio pra sairmos.

Depois ficamos sabendo que o dono da casa um tal de Paulo, alguns dias antes do ocorrido havia mandado um segurança jogar um su- jeito escada abaixo. Disseram que esse mesmo sujeito era ou tinha sido um jagunço que prometeu vingar-se.

Nessa noite ele se aproximou da mesa da vítima e disse:

“ – Eu vim aqui pra te matar!”

Paulo disse:

“ – O que é isso rapaz? Senta aí, vamos tomar uma cerveja!"

O bandido perguntou:

“ – Vais morrer sentado ou   em pé?”

Dizendo isso descarregou o revolver na vítima  que     mesmo sendo socorrida, morreu no hospital.

Jamais imaginaríamos que a nossa canja poderia ser tão indigesta.

Gilberto Stone
Enviado por Gilberto Stone em 06/12/2021
Reeditado em 02/05/2022
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