Sobre minha experiência de leitor

A leitura sempre fez parte de minha vida e de meu universo. Quarto filho de um casal que pouco ou quase nada lia, ao entrar na escola aprendi aos 7 anos como qualquer criança naquela época – e lá se vão 41 anos. A partir daí, as letras, as palavras, as frases e os textos começaram a me circundar. Vivia rabiscando papéis e lendo pedaços de jornais em que vinham embrulhadas as barras de sabão. Depois passei para as revistas em quadrinhos, quase uma febre: lia, trocava por outras, colecionava...

Já aos 12 anos, mais ou menos, descobri um lugar na escola em que estudava, no Hosana Salles, uma estante repleta de livros. Com isso, comecei a levar livros para casa e a lê-los com voracidade. Monteiro Lobato me fez viajar pelo Sítio do Pica-Pau Amarelo e as aventuras de tantas personagens fantásticas que faziam minha imaginação de menino do interior voar tão alto quanto. Por conta disso, aventurei-me pelo caminho da escrita: poesias, versos, personagens...

Foram obras marcantes como A ilha perdida, O caso da Borboleta Atíria, O menino do dedo verde, Zezinho, o dono da Porquinha Preta, Tonico, Menino de Asas, e tantos outros da famosa Série Vaga-Lume que tanto sucesso fez nessa época.

Dentre todas essas obras, uma muito me marcou – nem tanto pela história em si, mas pelo contexto em que se deu. A professora de Comunicação e Expressão (hoje, Língua Portuguesa), mandou ler o livro O Professor Burrini e as Quatro calamidades. Leitura obrigatória e inclusive na próxima aula tinha de ter o livro em mãos. Meu pai era caminhoneiro, viajando longe, e em casa já éramos cinco filhos, quase “éramos seis” e o dinheiro era escasso. Muito. Bem, eu tinha um amigo que tinha dinheiro, mas não gostava de ler. E dessa vez, ao invés de apenas ler o livro em voz alta no coreto da igreja para ele, eu precisava ter o livro para levar para a escola. Como resolver?

Fui até a venda onde meu pai tinha conta e comprei um caderninho e depois de ler para meu amigo, peguei emprestado e copiei o livro. Embora fosse um livro curto, coisa de 30 páginas se não me engano, copiei-o. Inteiro.

Na aula da semana quando a professora pediu que colocássemos o livro sobre a mesa, puxei o caderno e ela perguntou-me:

– Roberto, que caderno é esse?

– Professora, não tive como comprar... então, eu copiei.

Ela olhou-me com olhos de espanto. Sentou-se e começamos a atividade. Senti-me orgulhoso. E cumpri a atividade sem perder um ponto sequer.

Algum tempo depois, aos 15 anos, no caminho casa-escola (estudava no Liceu, nessa época), além da biblioteca da escola, descobri a Biblioteca Municipal que ficava onde hoje é a Câmara, bem ali na Praça Jerônimo Monteiro. Fiz uma carteirinha e me sentia importante ao poder retirar livros e livros. Cheguei a ler até 3 livros por semana. Li muito, li tudo. Li sem para. Viciei-me. E não mais parei.

Enfim, os livros foram meus grandes amigos, meus conselheiros, meus companheiros. Brincava, divertia-me com irmãos e amigos. Mas sempre voltava para eles: amigos incondicionais que me acompanham até hoje.