CRINGE
Nos dias atuais, testemunhamos a era dos "textículos", textos curtíssimos. Alguns são efetivos, ideias diretas como uma bala. Mas há também os textos quebrados, fragmentos de algo que quis nascer e não conseguiu encontrar as palavras para transmitir o sentido e a sensação do falante diante de situações diversas. Esse segundo tipo me parece ser o mais comum. Pergunto-me se isso ocorre simplesmente por causa da velocidade absurda dos tempos dos automatismos. Sim, parece lógico. Mas e quanto à dificuldade de alguém dominar a arqueologia da palavra? Falo daqueles fósseis que teimam em se manter no subsolo do pensamento, que, apesar de fustigarmos fundo nos sulcos mentais, parecem afundar cada vez mais. E, por fim, quando alguma de suas arestas torna-se visível, ao catalogarmos a descoberta, o objeto demonstra-se incompleto, meio que insensível ou com sentido deslocado, ambíguo, inelegível. Alguns teorizariam que se trata da imperícia do autor em não ter usado as ferramentas adequadas (talvez ainda não as tenha adquirido ou mesmo porque a ocasião assim não o permitiu) e assim, não foi capaz de traduzir o turbilhão de ideias e emoções em um texto palatável. Sim, isso é plausível. Mas e se o número de palavras necessárias fosse demasiadamente além do espaço de exibição da mensagem? E se isso, o espaço limitado, fosse propositalmente assim? E se isso, na verdade, já tivesse se tornado a língua padrão humana? Não seria mais fácil escolher uma citação renomada ou um pictograma que valesse por mil palavras? Quem iria acompanhar o trajeto completo dos vocábulos até chegar à última frase e lá capturar todo o sentido? Seria isso "cringe"?