DEPOIS DA FARDA II

O movimento era enorme no salão "Continental" onde estava acontecendo

um encontro de policiais aposentados. Fazia anos que muitos desses senhores não se encontravam. Havia no ar um clima de muita emoção.

Emoção essa que chegou ao seu auge quando foi chamado ao palco Aderbal Souza, jovem estudante, que como convidado do evento representava e homenageava seu pai, sargento Leonel Souza

aposentado como todos dali, morto pelo Covid no início do ano. No início de sua fala, Aderbal lembra do amor e respeito de seu pai pela farda, lembra de todas as vezes que o pai se referia aos colegas e do carinho que recebia e que com alegria retribuía. Nesse momento , o jovem

não consegue esconder as lágrimas, que a saudades do pai lhe provoca, lembra da rapidez da doença que tirou a vida do pai e tirou a possibilidade de uma despedida digna. Lembra da falta de um abraço caloroso, das palavras não ditas, do agradecimento não feito. Essas manifestações de amor provocam lágrimas nos olhos cansados de todos aqueles que por tantas vezes, no se dia a dia, viram a morte muito de perto.

Mas o encontro era de alegria, portanto, a banda "Flor da Serra" se encarregou de alegrar o ambiente com suas canções festivas.

Em uma de suas músicas a vocalista canta "... o cabeça branca é o dono da lancha..." Uma parte do público arrisca um trenzinho humano, e como crianças , contornam o salão, onde alguns pares já estão a bailar, quando a extrovertida cantora pergunta: tem cabeça branca aí ? Não precisou resposta. Viu que a neve já cobria as cabeças de todos que ali se encontravam. Todos eles que tinham certeza de que serem donos da saúde em suas vidas já era a maior riqueza.