Expectativas

Lugar comum nas redes sociais hoje em dia: “não crie expectativas”.

Outro clichê: “Não conte seus planos pra ninguém”.

Vamos amarrar as duas coisas. Pra isso, em primeiro lugar, quero dizer que concordo com as duas expressões acima. Em parte.

O exercício filosófico começa com definições. Por expectativa, neste texto, quero dizer “desejo intenso por algo próspero”. Pois expectativa pode significar também “condição de quem espera para que algo aconteça”, não necessariamente algo bom. Como exemplo temos a expectativa de tempestade para hoje, sendo que não quero que chova. Estas duas definições são dadas pelo site www.dicio.com.br.

Expectativa boa definida, criar ou não criar? É claro que armar um castelo de cartas é arriscado. Coloca-se empenho e dedicação em sua construção, alguém abre uma janela e uma brisa matreira faz seu trabalho de destruição. Se o castelo não tivesse sido erguido...

Expectativa tem uma relação com fé e esperança. Expectativa é mais fraca que esperança e esperança é mais fraca que fé. De acordo com o mesmo dicionário, esperança pode ser “confiança de que algo bom acontecerá” e fé pode significar “excesso de confiança depositado em alguma coisa ou alguém”.

Então, a expectativa é a primeira manifestação do desejo por um próspero futuro: uma semente. É arriscado plantá-la se quem a plantou não está também preparado para o malogro. De toda forma, o que se ganha criando expectativas? Eu respondo. Mas, para isso, vou precisar amarrar os dois períodos citados no início do texto, conforme prometido.

Assim, continuamos com “não conte seus planos pra ninguém”. Se alguém tem uma ideia, molda-a em forma de projeto e começa a chama-la de plano, este alguém tem um olhar para o futuro: criou para si expectativa, o início de tudo. Não vejo como planejar algo em sua própria mente sem ter, no mínimo, expectativa.

Quando a pessoa compartilha de seu plano secreto, desnuda-o e submete-o aos holofotes alheios. O plano, agora não mais oculto, está sujeito à perigosa expectativa alheia – que não é olho gordo nem inveja, esqueça isso. O perigo da expectativa alheia está na cabeça de quem bolou o plano recém revelado. Pois agora a pessoa sente que deverá prestar contas, de seu sucesso ou de seu fracasso, a outra pessoa. Seu inconsciente assume esta dívida. E inconsciente é fogo traiçoeiro. Quem brinca com ele acaba fazendo xixi na cama... ou coisas piores.

Planejar solitariamente gera expectativa íntima, e manter esta expectativa é manter o plano! Então, o que se ganha criando expectativas é mais madeira para a fogueira de seus próprios projetos. Sem expectativa, qual o sentido de continuar com o plano? Quem continua sem expectativa parece não saber o que faz, ou esconde a própria expectativa de si mesmo.

No entanto, é preciso manter o pé no chão, não promover expectativa a esperança sem razões para isso. Aí está a linha difícil de não se cruzar, pois é indefinida e ninguém tem um mapa para ela. Por ser coisa boa, um pouco de expectativa pode crescer descontrolada, adubada por uma mente sedenta de esperança ou de fé. Daí tanto se falar em “não crie expectativas”, pois é perigoso. Penso que o mais sensato seria "não crie tantas expectativas" ou "mantenha as expectativas baixas".

Não compartilhar dos planos mais íntimos livra do fardo de prestar contas a outrem. Sucessos ou fracassos vindouros ficam livres do julgamento alheio. E isso é importante para a mente humana. Entretanto, quem são essas outras pessoas? Até a própria mãe do sujeito que planeja está apartada do segredo? Essa é uma questão subjetiva e por isso eu não concordo completamente em não compartilhar de planos. Às vezes sente-se saudade de uma força tão positiva quanto a de uma mãe, pai, marido ou mulher. Essa força também é lenha na fogueira das expectativas, amplia a pressão do vapor da locomotiva dos planos e faz chegar mais rápido ao destino dos sonhos. Pois nestas pessoas temos mais que expectativas: temos esperança e fé. É preciso sabedoria e discernimento para escolher com quem compartilhar seu futuro.