AMEIXAS

21 de dezembro às 14:39 ·

 

No marasmo das14 horas desta tarde quente e abafada, eis-me aqui a degustar umas ameixas que adquri num super mercado proximo.

O sabor não é lá aquelas coisas, mas era o que tinha-se para o momento.No silencio da tarde de pouco movimento, entre uma mordida e outra, visto calças curtas, pulo a cerca e adentro ao quintal do tempo.

É dezembro, faz calor e há dezenas de ameixeiras perfiladas entre macieiras, pessegueiros,pereiras e um parreiral modesto.

Tanta fruta que os galhos estão escorados em troncos de madeira para suportar o peso das mesmas. Duas qualidades de ameixas (as roxas e as amarelas)

Cantam bem te vis entranhados no arvoredo e o odor das frutas entorpece.(jamais esqueço o sabor daquelas ameixas que caiam pela noite sobre o canteiro de "catinga de mulata" ) A mistura dos odores de ambas formava um bouquet inesquecivel. Durante o dia inteiro pipocavam compradores no portão, à quem a dúzia costumava ter sempre uma generosa quantia de unidades a mais. À tardinha eu enchia duas cestas e ia promover a alegria dos moradores da olaria São Francisco.

Um tanto distante da casa onde morava, percorria uma silenciosa estradinha de chão ladeada de araucárias e mata rala.Por trás das cercas aramadas o gado preguiçoso seguia-me com aquele olhar solitário das vacas entre uma ruminada e outra.Quando aproximava-me da porteira de entrada para a olaria, o ar festivo dos radios sintonizados em modinhas caipiras dava o tom àquela perene alegria que rondava a ladeira ladeada das pequenas casas da vila operária. Aos poucos as mulheres iam surgindo com potes, sacolas e bacias para adqurir as ameixas do "piá da Dida".

Retornava com uns trocados no bolso fazendo planos de futuros investimentos.Os dias abotoavam-se entre pescarias e gorjeios de sabiás.

À noite, ao redor da mesa eu prestava contas do meu dia.Calados, meus pais entreolhavam-se e eu percebia na luz de seus olhos uma espécie de orgulho de mim, daqueles braços franzinos que carregavam cestas.Isso me fazia sentir uma felicidade da qual eu nem tinha dimensão.

Agora estas frutas...Insossas a provocar-me um retorno no tempo.

IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 31/12/2021
Reeditado em 31/12/2021
Código do texto: T7419303
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