31 de Dezembro

Último dia do ano, em breve um ano novo não tão novo assim, chove sem parar e eu aqui dentro de casa, escrevendo esta crônica.

Não sei você, mas eu não tenho motivo algum para comemorar, muito pelo contrário, só tenho a lamentar, pena que as páginas do meu caderno não serão suficientes para expressar tudo que sinto e também não quero cansar meu leitor com tanta choradeira.

A chuva intensa lá fora reflete bem como foi este ano que está passando: lágrimas, lágrimas e lágrimas. Para ajudar, amanheci com alergia e uma feridinha na boca. Termina logo essa fase!

Diferente de outros anos, eu nunca vi tanto desânimo e falta de perspectiva como estou vendo agora, pois o normal nessa altura do campeonato é vermos as pessoas fazerem planos e metas para o próximo ano que virá, só que desta vez, não estou vendo absolutamente nada.

As pessoas estão se limitando a fazer retrospectivas desse ano no máximo e comigo não é nada diferente. Eis o principal motivo de estar escrevendo nesse momento.

Ano marcado por pandemia, lockdown, demora nas vacinas, já logo no começo percebi que as coisas que pretendia fazer não seriam possíveis e minhas expectativas logo se esvaziaram, além da frustração. Não pude fazer meus cursos de férias que sempre costumo fazer, sendo obrigado a ficar trancado em casa, restringindo meu lazer a internet, meio do qual já estou enjoado, de tanto ficar conectado.

Nas redes sociais, as coisas não foram muito melhores, sendo cancelado no Facebook e Instagram, que simplesmente limitaram o alcance de meus posts, trazendo-me enorme um prejuízo de meses de textos escritos perdidos, onde no fim das contas, acabei falando com as paredes, motivo esse que vim para o Recanto das Letras, que foi uma das poucas coisas boas que aconteceram nesse ano. Além de ter total liberdade de expressão, sem nunca ter sido censurado, o alcance ainda é muito maior. Espero que em 2022 continue assim.

Graças ao cancelamento, o projeto de lançar o livro de poesia que já estava pronto, foi adiado, pois tive que me dedicar a resgatar todos meus textos perdidos, transferindo para o site, tanto é que praticamente tudo que aqui foi publicado são textos antigos, sendo poucos atuais.

Tudo isso tendo apenas os sábados para fazer essa tarefa, já que não vivo da escrita.

Academicamente não tive melhor sorte. Faltaram recursos financeiros suficientes, livros que além de caros, não dava para pegar emprestados devido ao isolamento e fechamento das bibliotecas públicas. Fiz meu Pré-Projeto de Pesquisa para o Mestrado na raça, podemos assim dizer, levando meses de dores e suor de minha parte.

Passei da primeira fase, no exame de Proficiência em Língua Inglesa, tendo pouco mais de um mês para ler todos os livros da lista de leitura obrigatória da segunda fase e prestar a Prova Específica de Literatura Brasileira. Consegui ler todos os livros (as resenhas dos mesmos estão todas publicadas aqui no site) e fiz dois exercícios de simulação, mesmo faltando dois dias para a realização da prova. Sobre o dia da prova e tudo que aconteceu naquele dia, posso fazer outra crônica, então se você deseja ler, deixe nos comentários, mas voltando ao assunto, eu não consegui avançar, ficando extremamente chateado, inclusive comigo mesmo que ao pedir para uma outra pessoa, professora amiga minha corrigir, cometi erros crassos, que não poderia ter cometido. Fiquei muito mal!

Para dar um tempero maior a minha maré de revesses, percebo que o atual estado da academia é deplorável. Extremamente politizada, controlada por grupelhos partidários que com sua prática mais asquerosa de corporativismo, transformaram o ambiente universitário em tóxico e irrespirável, fruto de uma polarização que tomou conta da sociedade.

Percebi que a formação de profissionais, mestres e doutores não são mais a prioridades, mas sim a produção em larga escala de um bando de robôs ideologicamente programados sobre a pecha de “ativistas”, “militantes” e “revolucionários”. Diálogo com a sociedade? Projeto de país? Desenvolvimento científico e tecnológico? Esquece! Pois para essa gente, o importante é saber se posicionar no mundo e ter afetividade, desde que seja do seu lado, do contrário, a pessoa é inimiga. Saber interpretar um texto, escrever academicamente, fazer continhas básicas? Bobagem! Isso é trivial! As pautas identitarias e progressistas/liberais são muito mais urgentes e relevantes! Revolução Já!

Fico pensando se vale á pena me esforçar tanto e passar dois anos de minha vida num ambiente tão tóxico e nocivo como atualmente é o ambiente acadêmico. Será que terei estomago suficiente para aguentar?

A Universidade Pública está doente e temo que não só seu remédio como sua cura seja amarga para todos nós e as futuras gerações. Se isto acontecer, nós saberemos quem serão os responsáveis por ajudar no processo de deterioração e certamente a sociedade irá cobrá-los.

A escola onde dou aula, por pouco não foi à falência e por pouco não perco o emprego.

O que ganhei não foi suficiente para guardar, gastar naquilo que queria, pois quase nunca sobrava, tendo que me contentar em apenas pagar as contas e suprir as necessidades básicas.

O que dizer sobre as condições de trabalho e o baixo nível de investimento na educação?

E a baixa qualidade de ensino que com a vinda da pandemia agravou ainda mais a situação?

Desvalorização do Profissional onde a docência é apenas tratada como um bico?

Bem, deixo isso para uma próxima oportunidade se for possível, mas é triste em ver uma categoria ser tão desprezada, desrespeitada, desunida e atomizada como a docente, sobrando um pingando de gente, restritas a pautas políticas-partidárias, movimentos sociais e sindicatos pelegos que em nada beneficiam o todo da classe. Fico na dúvida se devo prosseguir ou mudar de área.

Decepção com muitas pessoas, afastamento de amigos que ontem pareciam irmãos, hoje se trata de uma relação fria e distante. Fora o isolamento social que me privou de encontrar muitos chegados.

Tenho muito que falar, mas preciso encerrar, antes disso, quero pedir desculpas aqueles que vão me cobrar porque escrevi em linguagem coloquial, descuidei da gramática, fui prolixo e tudo mais. Desculpem-me, mas eu preciso pôr para fora tudo que estou sentindo e não tive tempo, muito menos cabeça para pensar nessas coisas.

Aos demais desejo Boas Festas e Feliz Ano Novo e vou continuar por aqui, lamentando-me por um ano que foi totalmente perdido.

(2021)