Construção de pensamentos

Sinto que os meus pensamentos se dividem em três compartimentos, na verdade um pequeno prédio sem a complexidade da engenharia, apenas um porão e dois andares, provavelmente, minhas ações estão no vão que se forma entre o porão e o primeiro andar.

No primeiro andar, estão meus pensamentos mais ativos, todos operários que trabalham em letras maiúsculas, trabalham tanto que não se importam com feriados ou horas extras. Nesse andar são construídas as críticas, as reflexões, as projeções, os julgamentos dos outros e de mim mesma, o balanço da minha vida...

No porão, existem outros pensamentos, letras minúsculas, nem sempre os vejo, mas vez por outra, acontece alguma coisa na linha de produção do primeiro andar, que por vezes pode ter sido influenciada pelo que acontece no vão das atitudes praticadas ou sofridas, então, esses pensamentos minúsculos, contudo, são poderosos e aparecem para dar prumo, alinhar, corrigir a produção de pensamentos no primeiro andar, eles fazem perguntas, formam imagens, levando quase todo o primeiro andar a parar e prestar atenção, tipos de fiscais da Vigilância Sanitária. Digo quase todo, porque aqui ninguém é perfeito, e há momentos em que os pensamentos que trabalham no porão aparecem em momentos impróprios, cobrando demais, ilustrando demais. Às vezes, o primeiro andar está tentando limpar algo e os pensamentos do porão aparecem sujando o ambiente e incomodando assim como aquela pessoa que insiste em pisar no chão molhado que a dona de casa está limpando. Nesse momento, aparece a autoridade do primeiro andar e diz " Aqui, agora você não entra." e, como se fosse com um apagador, o elimina de cima pra baixo, até que ele volte ao porão de onde saiu ou deixe mesmo de existir. Bem, é praticamente nesses dois lugares que tudo acontece.

O segundo andar... O segundo andar é um imenso salão branco, com colunas quadradas espalhadas, e tem apenas um quarto do lado esquerdo, mas não vejo a porta. Tem muitas janelas de vidro do lado direito, recebe muita luz natural, sim, muita luz solar. Mas é silencioso, não há movimento nem mesmo de vento e isso é tudo que o primeiro andar consegue saber do segundo. Nesse andar é onde os pensamentos sobre o futuro, que foram elaborados no primeiro andar, deveriam estar agora, ganhando projetos, moldes em 3D, gráficos... Era aqui que deveriam ganhar corpo para voltarem ao vão das atitudes e lá ganharem vida e gerarem resultados. Mas não. Nesse andar é onde está o maior problema dessa fábrica onde é construída a minha vida. Por outro lado, fico a pensar que não, talvez o problema esteja justamente no primeiro andar, onde os operários estão trabalhando em círculo, tentando gerir o que acontece no vão das atitudes, ou seja, gerir o que acontece no presente, no dia a dia mesmo. Quem sabe, se não conseguem entrar no segundo andar porque estão muito focados no que acontece no vão das atitudes? Enfim, talvez eu devesse chamar de hospício, pois o que vejo, assim descrito, é muita loucura de pensamentos.