Armadura
Se me tirarem a armadura, não resta nada.
Protegida de tudo e de todos, viver a vida no conforto nunca foi tão sufocante, talvez, se soubesse ver através do alumínio que me envolve faria algum comentário crítico sobre a vida.
Me perco, a trajetória é longa e árdua até o pódio, mas o resultado é decepcionante, mais uma longa estrada a se trilhar, esperei que a felicidade fosse um mérito válido para os corres da vida, no entanto, não passa de uma parada para beber água, se hidratar para o subsequente.
Me fecho. Dentro da armadura, vejo o reflexo de um corpo fraco, flagelado pelos golpes internos, se machucando cada dia mais e, ainda assim, preso, obrigado a conviver consigo, fechado no seu "lugar seguro", mas que preço tem essa segurança?
Me acoberto na metáfora mais platônica que encontro e lá me instalo, temo o brilho do sol e a queimadura decorrente dele, temo me expor e piso com cuidado. A transparência enfraquece.
A poesia já foi minha morada, hoje, me abrigo junto a ela, mas temo perdê-la também, viver sem a poesia seria, de fato, sufocar em luto eterno. Se te escrevo, alimento não só a alma, mas também, ressuscito a matéria.