Quase uma tragédia - Parte 1

Dia 19 de Março de 1995, dia de S. José.

As procissões noturnas conduzidas sob a luz das velas cintilam sua tênue claridade despertando emoções elevando espirito dos fieis, porem esse dia criou uma marca indelével em nossas memorias.

Tudo começou no dia anterior quando recebi um telefonema do meu amigo o comandante Miguel.

- Alô comandante pode falar.

- Fomos convidados a participar da cerimonia de lançamento da pedra fundamental do Aeroclube de Jacobina, precisamos voar para lá amanhã cedo. Diz ele.

- Temos aeronave disponível? . Pergunto.

- Temos o PP-GEF rebocador, mas o voo é diurno, iremos eu, você e Ruy. Completa ele.

- Ok, de acordo, amanhã lhe pego. Respondo.

No dia seguinte acordei mais cedo, a ansiedade de participar de um evento tão importante me tirou o sono, a missão estava para além do prazer de voar.

Sandra minha esposa não me acompanhou, coincidentemente ela foi convidada a participar da procissão de São Jose organizada pela família de uma colega e amiga residentes em um povoado chamado Sitio Novo, distante da nossa cidade mais ou menos quinze quilômetros.

Combinamos então, que eu a pegaria no retorno, ela e a nossa filha Carina. Estimei chegar mais ou menos às 19 horas, se tudo corresse bem com a nossa viagem.

Despedi-me dela, retirei o carro da garagem, e me desloquei até a casa do comandante Miguel. Saboreamos um cafezinho e entramos em contato com Ruy, confirmando o evento e o horário da nossa chegada, ele já nos esperaria adiantando os preparativos para o nosso voo.

Pegamos a estrada rumo a Feira de Santana, chegamos ao aeroclube por volta das 07h30min, o comandante Ruy já nos aguardava sentado na cabine do nosso pássaro vermelho e branco. Este avião é um rebocador de planadores, um pequeno gigante em força, mas sua área de atuação é muito limitada por restrições de procedimentos, mas, naquele dia com ajuda do santo, ele nos levaria muito além das montanhas. Assim acomodados na minúscula cabine do PT-GEF, e decolamos as oito horas em ponto. Subimos em direção ao infinito azul borrado pelas nuvens brancas, nivelamos a cinco mil pés mantendo o rumo magnético de dois oito zero. A paisagem abaixo parecia uma maquete, sobrevoávamos o anel rodoviário de que liga as principais rodovias do país, e logo a frente brotaram as primeiras montanhas da cordilheira com seus imponentes contrafortes e picos.

Após uma hora e vinte minutos de um voo calmo, confortável e sem turbulência, avistamos a pequena cidade no sopé do vale entre as montanhas. Devido as varias elevações do entorno, uma delas em particular é o morro do Jaraguá, com quase novecentos metros de altura, a razão de descida tem que ser precisa. O procedimento de aproximação é pouco convencional, é preciso despencar literalmente até atingir o circuito de trafego a mil pés, o restrito circuito de trafego, nos leva até a cabeceira e o pouso. Após calorosa recepção pelos membros do aeroclube, iniciamos diversos voos com pessoas ligadas ligadas aquela entidade, ao mesmo tempo que acontecia apresentação dos paraquedistas, houve até um mine Rally aéreo, mas não participamos. Entre pousos e decolagens, como Piloto aluno, fui requisitado a organizar no solo os embarques e desembarque dos passageiros, verificação do combustível, preparação da cabine, saquinhos de vomito etc. Realizamos os voos durante todo o dia, a fila nunca diminuía, a emoção e o medo de se projetar no espaço são contagiantes, e isso percebia-se nos olhos daqueles que nunca se aventuraram nos céus. Assim, respondemos as centenas de perguntas dos curiosos, participamos ativamente da gastronomia, entrevistas para as rádios locais, fotos com as equipes e autógrafos.

Foi um dia histórico, mas o que sucederia em poucas horas, o tornaria obscuro e sombrio.