Promessas de ano novo

Todo início de ano é assim. Sei que não é todo mundo, mas muita gente atribui a si alguns desafios. Os clássicos: fazer dieta, entrar na academia, ouvir mais e falar menos, acrescentados aos trazidos pelos novos tempos como ficar longe do celular e perto dos livros ou da família, e por aí vai. Pra não ficar de fora, fiz o meu também: aprender a nadar. E nem me venha com essa de “nessa idade não sabe nadar?” que não me afeta. Tenho netos e estou acostumado a ouvir deles, após alguma pergunta sobre internet ou funcionamento de celular a clássica frase/pergunta “você não sabe isso, vô?”. In other words, estou vacinado! Mas explico porque esse meu interesso agora pelo nado, antes mesmo que alguém questione “mas você não nada nadica de nada?” É claro que se eu estiver numa situação de risco de afogamento, a dez metros de uma boia, eu até consigo, pelo famoso método “cachorrinho” alcançar a salvação. Mas eu quero mais e, além do mais, a técnica. E o meu desafio é bem maior. Não se restringe apenas a dar algumas braçadas com técnica e beleza: quero atravessar o Mar Vermelho. Só isso! Para tanto, fiz alguns planos. O primeiro, o A, é ferir as águas (que nem vermelhas são, sabia? De longe elas se tornam azuladas, parecidas ao azul piscina do mar de Pajuçara) com o cajado abençoado que tomei emprestado de um amigo que percorreu os caminhos de Santiago. Espero que, logo na primeira tentativa, se abra, como aconteceu com Moisés. Mas vá que Deus (me perdoe, meu Deus!) diga “de novo esse milagre, Fernando? Não se lembra que já fiz isso duas vezes? É isso que dá não ler a Bíblia. Fica só ouvindo a história batida de Moisés, que até música tem, e fica sem saber que no tempo de Josué eu também fiz isso, lá no Rio Jordão. E tem mais, se eu abrir pra você agora, será a terceira vez, vai aparecer na TV, com certeza, e não quero passar pelo vexame de ouvir Alex Escobar dizer “agora já pode pedir música no Fantástico”. Tudo menos isso, me tire dessa. Veja aí com meu filho que Ele fez um milagre mais recente, tem só uns dois mil anos, e que tem a ver com água também. Vá ler a bíblia pra saber direitinho como aconteceu. Mateus, Marcos e João tratam disso. Vê se aprende alguma coisa com eles. Um alerta: leia com atenção o evangelho de Mateus e veja o que se deu com Pedro, para não acontecer com você também, homem “bule”. Bule? O que é isso? “Deixa pra lá... “

E não é que está tudo lá, escrito? Foi no mar da Galiléia. Esse é então o meu plano B. E rompendo em fé eu cantarei: “e se diante de mim, não se abrir o mar, Deus vai me fazer andar por sobre as águas”.

Mas pode ser que esse meu segundo plano também falhe. Sabe o que é “fé de menos”, não é? Pedro que era Pedro, que era pedra e sobre a qual a igreja foi edificada, vacilou, imagine eu, que até blasfemador me tornei.

E é aí que entra o plano C, do aprender a nadar. Se os outros dois falharem (muito mais por falta de fé da minha parte do que pelos poderes de Deus, que isso fique bem claro) só me resta ir a nado. E é por isso então que coloquei como desafio para esse ano esse aprendizado. Foi bem assim que eu expliquei ao professor Vinícius, que ficou com essa incumbência de me transformar em um nadador. Acredito que acabará operando, à sua maneira, com as aulas, um milagre em mim. Professor é capaz disso, não é? Operar o milagre do saber nas pessoas. Será a minha salvação. Assim espero. E também que Deus me perdoe. Amém!

Fleal
Enviado por Fleal em 11/01/2022
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