DIANA, A PRINCESA SOLITÁRIA

“Na parede da cafetaria do hospício havia uma foto dele (um senhor de sessenta e poucos anos muito efeminado) e de Diana com outro homem e Diana estava a rir perdidamente.Perguntei-lhe:” Que diabo tinha acontecido para ela estar a rir daquela maneira?” E ele respondeu: “ Bem, eu estava muito nervoso e o meu amante…que já morreu…estava sentado ao meu lado, e era tudo muito estranho, e eu não sabia o que dizer.Olhei para ela, e de repente saiu-me: A senhora é uma princesa e eu sou…uma rainha!”E começou a chorar enquanto contava a história, e subitamente compreendi que ela simbolizava, mesmo sendo um membro da realeza e uma celebridade o cortar de todas as amarras, o baixar de todas as pontes”

Tina Brown in “Diana – uma vida”

Subitamente atrás do caixão coberto com a bandeira dos Windsor num dado ponto do cortejo fúnebre assomaram o Princípe Filipe de Edimburgo, Carlos, Princípe de Gales, os seus dois jovens filhos órfãos William e Harry e o conde de Spencer, o irmão de Diana, alto e ruivo de semblante fechado e que se benzeu à passagem do carro que transportava os restos mortais da irmã.

Biliões de espectadores espalhados pelos quatro cantos da terra tremeram comovidos, soluçaram desprevenidos e milhões de lágrimas escorreram pelos rostos no mundo inteiro.Num espectáculo único e perfeito Diana conseguia congregar as atenções como havia dezasseis anos conseguira naquele que fora o amaldiçoado e mais belo casamento. O casamento do século.

- Os ingleses são incríveis e souberam dar a volta.

- A Firma soube encenar a peça e transformar o circo num momento indescritível.

E enquanto os cinco homens impecavelmente orquestrados marchavam cumprindo as regras impostas por um Protocolo real sem precedentes com os jovens princípes advertidos que lhes estava vedado demonstrar os sentimentos, as câmaras davam conta da chegada a Westminster dos convidados mais famosos - reis e rainhas, princípes e princesas das côrtes de toda a Velha Europa, presidentes de vários continentes, estilistas de Alta Costura, cantores internacionais, estrelas de cinema e a nata da sociedade ocidental.

Cá fora a multidão em silêncio ladeava o cortejo em que marcavam presença os representantes de todas as instituições e obras filantrópicas que a Princesa tinha apoiado durante a sua demasiado curta existência.

Diana – beldade de arrasar, o expoente moderno da rebeldia contra o “status quo” e a fada que iluminava a causa dos pobres e excluídos já incendiava a polémica entre facções e vozes,com intelectuais a vociferarem fora de si, bradando aos quatro ventos com desdém que era incompreensível a Mágoa e o Tsunami de desgosto causado por aquele Mito descabelado.

A rainha Isabel de Inglaterra e a sua côrte habituada a cultivar a altivez e distância tiveram que colaborar a contra gosto no Serviço das Exéquias expostas ao Mundo e curvar as cabeças à passagem do féretro de Lady Di em sinal de respeito para com Público que viera para a rua para a homenagear.

A “mulher mais fotografada do mundo”destacara-se pela compaixão, classe, carisma e high-profile no trabalho relacionado com Obras de caridade assim como o seu casamento desastroso com o presuntivo futuro rei de Reino Unido.

Para alguns ela era uma trabalhadora árdua e dedicada e o marido não foi capaz de se reconciliar com a extraordinária popularidade que ela conquistara.

Alguns dos seus colaboradores consideraram-na uma chefia dura e desafiante sobretudo se se sentia vítima de qualquer injustiça.

Alguém que pensava muito e praticava uma introspecção profunda no silêncio das noites solitárias.Mais visivelmente, uma mãe devotada aos seus filhos.

Mas também senhora de uma natureza tímida, inteligente, astuta e divertida.Um pessoa que se deixava “levar pelo coração”.Que tinha uma influência duradoura quando falava em público, especialmente quando se referia a temas como a saúde mental e as desordens alimentares.Com o poder de seduzir qualquer um com um simples relance do olhar, quer nos bailes cheios de pompa e circunstância quer nos bairros pobres de Londres, junto dos sem abrigo.

Diana , rainha do coração de muitas gentes que imbuíu o seu papel de princesa real de vitalidade, activismo e, acima de tudo, de glamour.Tony Blair, primeiro ministro na altura da sua morte chamou-lhe a “Princesa do Povo”.

Talvez ela tivesse visivelmente renascido depois da sua separação de Carlos, um ponto de viragem na sua vida que foi descrito como o seu grande momento de triunfo.

O facto é que ela foi também sempre criticada e odiada durante toda a sua vida.

Um professor de Filosofia conceituado acusou-a de ser incapaz de cumprir os seus deveres, de prejudicar a monarquia com o seu comportamento imprudente e que era marcadamente auto-indulgente nas suas tentativas filantrópicas.

Mas as organizações de caridade apoiadas por ela contrapuseram e acharam esses comentários detestáveis e inapropriados.E ripostaram em sua defesa acerrimamente.

A relação com a imprensa foi sempre ambivalente.Sabia que os jornalistas, repórteres e paparazzi constituíam a fonte do seu poder.Por isso sobrecarregou a sua agenda com deveres públicos e, sem querer, acabou por destruir a fronteira entre a sua vida pública e privada e de morrer numa fuga patética com eles no seu encalço.

Mas enquanto uns a caracterizavam como imprevisível, egocêntrica e possessiva outros proclamavam a sua seriedade e entrega às causas que patrocinava.

E havia quem se dividisse em achá-la manipuladora mas reconhecendo a sua extraordinária capacidade de cativar, um meteorito imprevisível cuja morte provocou um ponto de viragem para a monarquia.

Durante o serviço no seu estranho e belíssimo funeral o conde Spencer lançou farpas contundentes aos que tentaram denegrir o seu valor e o seu discurso ecoou no silêncio das naves apinhadas da Catedral.

“Diana foi a verdadeira essência da compaixão, do dever, da classe e da beleza.Em todo o mundo ela representava um símbolo de humanidade altruísta.Em todo o mundo, um porta estandarte dos direitos dos verdadeiramente oprimidos, uma rapariga muito britânica que transcendia qualquer nacionalidade.Alguém com uma nobreza natural que se impunha acima de qualquer classe e que provou no último ano que não precisava de um título real para continuar a gerar a sua marca de magia especial.”

Elton John contido mas visivelmente emocionado interpretou numa performance irrepetível uma versão de “Candle in the wind” a ela dedicada (“Good Bye, English Rose”)cuja música se ouviu nos altifalantes espalhados ao redor da grande Igreja enquanto a multidão se confrangia com a tragédia da sua morte.

Mas na verdade, Diana não fora nem santa nem revolucionária.Ela nem sequer fora uma força ao serviço do anti-establisment como alguns pretenderam fazer valer.

Foi sem dúvida “a celebridade das celebridades,” uma mulher só e desamparada no meio de titãs que não podia controlar.Uma princesa mais só do que todos.

A sua vida fora breve mas deixou a sua marca.

Na sua sepultura em Althorp, jaz numa urna colocada numa pequena ilha no centro de um lago do grande jardim aberto da propriedade da família Spencer.

Como a bela Adormecida parece esperar cem anos para ser desperta pelo verdadeiro beijo de Amor de um Princípe.Só que nenhum Princípe virá nunca para a resgatar.

José Manuel Serradas
Enviado por José Manuel Serradas em 14/01/2022
Código do texto: T7429332
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