Foi há tanto tempo, mas tenho o poder  de guardar os momentos de minha vida de um modo muito real. Tudo que lembro, parece que estou vivendo, e chego a sentir o cheiro do momento, e a emoção.
O nome dele era Sérgio (Serginho como o chamava).
Ele era brejeirinho, moreninho, olhos apertadinhos, um sorrisinho matreiro, tinha milhares de meninas querendo namorá -lo.
Ele havia terminado um noivado de alguns anos, e começamos a sair, mas éramos somente amigos. Eu o conheci através de um amigo, o Cid. Na época meu pai tinha uma Loja de Cosméticos (Charme Cosméticos), e os dois viviam na nossa Loja, parando para conversar.

Serginho tinha um jipe, e lá ia eu, passear com ele. Ficava horas escutando ele contar de seu noivado, e da menina, e porque havia terminado, etc... Todos esses momentos que passamos juntos, era apenas amizade.  Conversávamos muito, e passávamos momentos gostosos e divertidos.


Então aconteceu que chegou o Carnaval. Ano de 1970. Fui no Tenis Clube de São José dos Campos, com minhas amigas, e encontramos o grupinho dele.
Sentamos na escada para conversar, lá no Salão aquela confusão de pessoas brincando, aquelas musicas inesquecíveis: "Olha a cabeleira do Zezé", "Tanto riso...ah! quanta alegria...mais de mil palhaços no salão"...
Estávamos sentados na escada, e o Serginho ao meu lado. De repente ele me pegou pela mão e subimos as escadas, e começamos a brincar. Pulamos Carnaval por horas, rindo com amigos, jogando confete, serpentina (ah que saudade daquelas serpentinas cor-de-rosa que a gente jogava e fazia aquele espiral no ar)... Aqueles pacotes coloridos. O lança-perfume geladinho na roupa (e na pele).

Até aquele momento, ele era meu amigo Serginho, e  estávamos nos divertindo como duas crianças. Foi então que começou a musica "As Pastorinhas". Todos ao nosso lado  começaram  a dançar lento e ele me puxou e me abraçou.
Nos dois suados, o contato com seu corpo, o rosto perto de seu pescoço, aquele cheiro especifico de sua pele arrepiou-me por um momento.
Suas mãos acariciavam minhas costas, e aquela proximidade foi uma das sensações mais deliciosas que já senti.
Ele começou a acariciar meus cabelos compridos, e a uma certa hora, puxou meu cabelo para trás, de um modo delicado, e nos olhamos profundamente.

Seus olhos pretos brilhavam naquela meia luz, e seu sorriso, seus dentes brancos e perfeitaos  passaram a ser uma paisagem atrativa, e um tanto  hipnotizadora. Dançávamos olhando um para o outro com uma sensação de um sentimento que estava nascendo naquele instante, sem que ao menos déssemos conta.

De repente nossos rostos estavam tão próximos, nossas bocas a um milímetro uma da outra, só que eu não tinha coragem de dar o primeiro passo (ah! se fosse hoje! rs).
E então eu senti aquela boca macia, foi a principio uma sensação terna, doce, meio de descoberta, mas que se transformou num beijo de verdade. Tudo em volta parecia meio etéreo. As pessoas, a musica, como naqueles filmes que a gente se sente completamente isolados da realidade.

Havíamos descoberto algo totalmente incontrolável e não paramos de nos beijar  e em seguida sentamos na escada e nos beijamos por muito tempo . Eu estava vestida de cigana. Saia comprida, blusa curtinha, uma fita na testa. Brincos e colares.
Lá em cima, o pessoal ainda brincava, e nos dois ainda nos descobrindo em nossos beijos. Beijos puros, gostosos e inocentes, sem avanços, interrompidos por olhares e sorrisos.

Mas essa linda historia  de Carnaval virou um pesadelo.
Como o Serginho me fez de boba! Era um Don Juan" de primeira categoria.
Marcava, não vinha. Quando vinha, jurava que me amava, e eu acreditava!
Ele tinha o poder  de me convencer facilmente (o que não é nada difícil..rs)

E por muito tempo ficamos assim (acho que quase 2 anos) com esse termina e volta...e   todas as "voltas" coincidentemente eram em Bailes, quando a famosa musica "As Pastorinhas" tocava e dançávamos, e nos beijavamos tudo de novo, como daquela primeira vez.
Ele foi uma grande paixão da minha vida. Não foi meu primeiro amor. Mas foi aquela paixão que a gente fica meio boba, perde a fome, sonha...

Até hoje quando ouço essa musica eu me lembro dos bailes, e de nosso romance.
E de minhas amigas em coro, dizendo: "Não acredito que você voltou com ele!". (risos).

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 17/01/2022
Reeditado em 17/01/2022
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