Boi

As pessoas estão sempre passando. Passam pelo tempo diferencial que compõe a sua duração no mundo material. Passam pelas pessoas que circundam a sua vida, em tantas fases quanto possível estratificar. Passam por parentes que não escolheram, passam por conhecidos e colegas de estudos e de trabalho. Passam por amigos que se aproximaram por afinidades diversas. Passam por amores, personagens de capítulos bem particulares no curso da vida; talvez as partes mais indetermináveis.

É um passar constante que vai deixando marcas indeléveis, por outras vezes superficiais, mas nem por isso sem significado. Cada pessoa tem a sua própria digital nesse processo incessável. Umas mais, outras menos. Mesmo depois de sua passagem lá estão elas a passar pelos escaninhos da memória daqueles que ainda não foram.

Hoje, por essa dinâmica das coisas que passam, o calendário convencional faz lembrar o momento de um ano que uma dessas pessoas nos deixou por causas para nós improváveis. Sobre as pessoas que nos marcam por uma passagem tão brilhante por óbvio que cada e todo dia é exatamente o mesmo para o sentir da falta da presença. Mas a data que se repete no ciclo de doze menos pelo menos faz com que várias pessoas que compartilham do mesmo sentimento convirjam numa mesma energia de exercitar a recordação.

Pois é isso o que ocorre no dia de hoje. Há um ano o querido amigo se foi por intermédio de uma morte que nunca terá explicações que satisfaçam as interrogações de cada um. No entanto isso não é mais importante. O que fica é o conjunto de lições que foi deixado para cada um dos amigos em cada superfície polida e lapidada com que nos brindou.

Poucas vezes tivemos uma pessoa tão amiga, sensível e comprometida com o bem estar do outro como ele. Sempre nos presenteou com a sua capacidade de perceber emoções e as sensações que iriam merecer suas respostas a provocar a reação necessária e inteligente diante dos estímulos externos.

Todos nós, por isso mesmo, talvez estejamos a nos perguntar o que foi que não percebemos por trás daquele olhar fugidio, que deixava a janela da alma tão semicerrada a esconder as angústias mais recônditas. É ininteligível para cada um de nós e, ao mesmo tempo, nos chama a entender por onde passam as decisões que fazem do ser humano verdadeiramente dono do seu destino.

Inteligente e talentoso, era reconhecidamente por nós uma pessoa fulgurante e reconhecidamente no seu meio um profissional brilhante e com um futuro magnificente. Não há quem não diga que ele deveria estar agora entre nós para ver os resultados daquilo que sempre defendeu e por que sempre lutou. Não, amigo, não deixaremos que o teu esforço combativo fique deixado nas bandejas de algum descompromissado com a tua bandeira de justiça.

Depois de tudo o que vivemos e aprendemos com ele, finalmente podemos atestar que o seu apelido, na realidade universal cósmica, mais do que o corpanzil, definiu o tamanho do seu coração, no sentido que me podem imaginar.

Graco Jakal
Enviado por Graco Jakal em 18/01/2022
Código do texto: T7431714
Classificação de conteúdo: seguro