CAFÉ PARIS, NITERÓI, ANOS 1920

LEMBRANÇAS NOSTÁLGICAS DO CAFÉ PARIS II

Nelson Marzullo Tangerini

“O Espeto” durou pouco, mais ou menos um ano; nasceu em abril de 1947 e veio a falir, por conta da falta de propagadas – e, consequentemente, de dinheiro -, em fevereiro de 1948, ano em que Tangerini já se encontrava afastado definitivamente da revista .

Nos meses posteriores à aparição da revista, em março, Nestor Tangerini volta a republicar sonetos de Luiz Leitão, na esperança de manter viva a memória do amigo e do Café Paris, demolido, depois de um incêndio devastador, para dar lugar à Av. Amaral Peixoto, no centro de Niterói.

Em 15 de setembro daquele ano, o soneto “Agora é canja”, de Lili Leitão, é republicado na p. 8 da referida revista:

“Outrora, quando um beijo lhe pedia,

tratávamos tão forte a desavença,

que ela, raivosa, sem pedir licença,

fechava-me a janela e – zás! – corria.

Antes, porém, zangada, me dizia:

- Não se enxerga!? Eu não sou quem você pensa!

E, fingindo uma grande indiferença,

por muito tempo não aparecia.

Hoje, no entanto, que mudança! Aquela

luta acabou. Beijá-la agora deixa,

e dos meus beijos gosta que se pela!

Não se amofina mais e nem se queixa,

em lugar de fechar, hoje, a janela,

são os olhos apenas que ela fecha...”

Em outubro, Tangerini prossegue com seu trabalho e volta a republicar, na p. 8, mais um soneto, “Minhas dívidas”, do amigo “parisiense”:

“Devo a vida a meus pais; ao professor,

o meu preparo, que não vale nada;

devo à loja, à pensão, devo ao doutor...

Tenho a vida de dívidas crivada.

Devo tudo: almofadas, cobertor,

quarto, comida, luz, roupa lavada...

Até meu terno, velho, já sem cor,

estou devendo a um ‘gringo’ camarada.

Devo, não nego; estou devendo à beça!

aos próprios santos, de quem não desdenho,

a cada um deles devo uma promessa.

E, apesar de viver endividado,

para aumentar as dívidas que tenho,

eu ando sempre a conversar ‘fiado’...”

Assim como “Elas”, reproduzido na crônica “Um plágio”, “Agora é canja” e “Minhas dívidas”, fazem parte do livro “Vida apertada”, de Luiz Antônio Gondim Leitão, citado na crônica anterior.

Enfim, Nestor Tangerini não deixou apenas a sua obra para que eu a republicasse, mas também essa luta, que deve ser incansável, pela memória do movimento que representa a história literária de Niterói e do antigo Estado do Rio de Janeiro.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 23/01/2022
Código do texto: T7435610
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