Pai, filho, tio, sobrinho, primo, padrinho, cunhado, amigo e Neto 🔵

O clima de veraneio talvez fizesse a notícia passar batida. Nem as cervejas, nem a caipirinha deixaram aquela afirmação diluir-se no ambiente de “casa de praia”. Alguém disse: “O Neto tá na casa do Batata.

Neto foi um dos melhores jogadores de futebol dos anos 80 e 90. Folgado, ele era do tipo boleiro, sem mi-mi-mi, estilo ‘bad boy’. O conceito do “politicamente correto” acho que nem existia. O Neto jogou no São Paulo, Palmeiras e Santos, mas foi ídolo do Corinthians. Agora, o Craque Neto, o boato se espalhou, estava ali. Nós, corintianos fanáticos e alcoolizados, mordemos a isca.

Aquilo foi tão covarde quanto jogar um pedaço de carne envenenada a um vira-lata. Se isso era uma estratégia da mulherada para nos retirar da casa, estava surtindo efeito. Meu cunhado e eu fomos rapidamente capturados. O meu tio formou o trio disposto a encarar a estrada para conhecer o ídolo.

Saímos com um clima de ceticismo no ar, como quem estava entrando numa jornada infrutífera. Eu quis crer que partimos como ‘vikings’ a uma terra distante, sendo a última esperança para o povo. Pegamos o Fusca e caímos na estrada. O endereço era numa outra cidade do interior de São Paulo, mas era relativamente perto.

Depois de vencida a rodovia, chegamos à casa, perto duma prainha de água doce. Porém, encontramos um silêncio pós-apocalíptico, ou pandêmico, e uma casa trancada. Não existia sequer ‘lockdown’ para que houvesse alguma festa clandestina.

De repente, o óbvio desabou como um balde d’água fria. Fomos puxados à realidade: havíamos sido enganados. A salvação seria um boteco, para a jornada não ter sido à toa e a vergonha ser menor. Alguém, provido de maior sapiência e tirocínio, suspeitou que houvesse uma movimentação, descendo a rua, numa outra casa com alguns carros na frente. Fomos lá. Chegando, logo vi um veículo com placa de Campinas. Isso era uma pista. Bingo!

A notícia das mulheres não era falsa, nós não fomos passados pra trás e, enfim, íamos conhecer o Craque Neto. Cumprimentamos o dono da residência, o Batata, alguns presentes e um cara gordo — com físico de jogador de xadrez —, mas muito legal. Era o Neto.

A gente percorreu alguns quilômetros para conhecer o Neto; ele rodou uns 290 quilômetros para o que estava na mesa. Um prato de macarrão chamou mais a atenção do jogador aposentado.

Para quem achava o jogador corintiano, conhecido como Xodó da Fiel, marrento, não o viu jogando Truco. Para ganhar uma partida, ele até jogou na cara um golaço que marcou no Maracanã.

Na hora de partir, à noite, eu parecia o mais sóbrio para dirigir, mas até hoje desconfio que o Fusca nos conduziu. Chegamos cheios de história pra contar, disfarçando a empolgação e a relativa tietagem ao ex-jogador de futebol do Corinthians.

Dizem que cunhado não é parente. Às vezes sim; dizem que neto é parente. Com “N” maiúsculo não.

RRRafael
Enviado por RRRafael em 25/01/2022
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