Não olhe para cima

O filme estrelado por Leonardo DiCaprio, Meryl Streep e Jeniffer Lawrence, disponível no Netflix, é tão repleto de mensagens que a tarefa de enumerá-las é proporcional à extraordinária dimensão do cometa Dibiasky, protagonista inanimado da película (Você vai ter que assistir!) Entretanto, a sensação de alívio experimentada ao término do filme é ainda maior. Lenitivo após dias de angústia e apreensão engendradas pelas chuvas ininterruptas que despencaram sobre o território mineiro. Vamos lá, a intempérie pluviométrica é um evento provocado por variados processos naturais, telúricos, oceânicos e atmosféricos. A interferência humana sobre aquela é também fator incontestável, sobretudo o desmatamento e a exploração predatória do solo e subsolo. Todavia, a iminência de rompimento de barragens de rejeitos de minério ser atribuída unicamente, pelas empresas que exercem a atividade, ao volume excessivo de chuvas impeli-nos a fixar o olhar, dispensar nosso tempo e atenção à análise dessas instituições. O que realmente são? Quem representam? A empresa Bash apresentada no filme é o estereótipo ironicamente perfeito de determinados segmentos corporativos em todo mundo. Fazendo-nos acreditar que somos dependentes de suas atividades e mercadorias e que, graças a elas, continuaremos a existir, seguros, na medida que geram empregos e detêm a exclusiva tecnologia salvadora do futuro, governam os governos que nos governam. De posse de mais informações sobre cada indivíduo do que ele próprio, direciona suas “escolhas”, materiais e ideológicas. E esse, cheio de razão e desejos, vivencia intensamente seu “ativismo de sofá” no Facebook ao mesmo tempo que abarrota o carrinho virtual com itens superfluamente indispensáveis. Mas a empresa no longa metragem vai além, utiliza seu crédito de patrocinador da campanha presidencial americana e ordena à presidente (Maryl Streep) que aborte uma ação já em curso, espaçonaves recém lançadas e repletas de mísseis que impediriam a colisão do cometa com a terra. Motivo? Cientistas da empresa identificam uma astronômica quantidade de valiosos minerais no asteroide e garantem que é possível extraí-los. Um plano mirabolante é colocado em prática e a barragem estoura, ....ops, falha grosseiramente. Em algumas horas, bilhões de pessoas deixarão de existir. Mas, por que uma história como essa traria algum refrigério? Porque é a crítica através da ficção insolitamente amplificada da realidade de inúmeros povos e territórios em todo o mundo. A análise Hollywoodiana da bestial e falaciosa metodologia empreendida pelas companhias para atingirem seus objetivos, sem preocupação com a vida, apenas com os números. A sensação de que somos nós desabafando explosivamente por intermédio do personagem Dr. Randall (Leonardo Dicaprio) : “O que aconteceu com a gente? O que nós nos tornamos? Como vamos consertar isso?

Ps. Esta semana completou três anos do rompimento da barragem de Brumadinho.

Humberto Brusadelli
Enviado por Humberto Brusadelli em 28/01/2022
Reeditado em 28/01/2022
Código do texto: T7439793
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.