_O BRASIL DO “FAÇA O QUE EU DIGO, MAS NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO!”

 

- Crônica do dia 01-02-2022 –

 

- Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!

 

Desde pequenos, é corriqueiro ouvirmos esta frase, seja em tom de crítica, seja em tom de demonstração de poder.

 

Pode-se, a isto, também, atribuir, como a muitas coisas vêm sendo feito nas últimas décadas, a este comportamento, a característica de ser um possível resquício do pensamento colonial escravista que temos que enfrentar e confrontar no Brasil pós-moderno, como é o caso do “neo-escravismo” à brasileira, como gosto de chamar.

 

Algo bastante constante em nossa cultura euro-tupiniquim, com algumas pinceladas africanas, que é como gosto de retratar o sistema político brasileiro.

 

Esse pensamento é nítido em diversas culturas mais ancestrais, porém, podemos explicar sua fundamentação mais erudita na Idade Média, onde a sociedade era, basicamente, dividida entre dois grupos que eram como água e óleo, a dita NOBREZA e os PLEBEUS.

 

Chega-se até pensar em ser lógica, esta distinção, já que muito bem, sofisticamente, fundamentada. Uma falácia quase imperceptível, portanto, reproduzida por muitos incautos ao longo da história e quase que naturalizada na mente de seres humanos que, nasceram livres, deveriam crescer livres e vivem aprisionados, não à obediência natural às coisas divinas, portanto, justas e perfeitas, mas sim, às coisas profanas impostas por homens que se julgam arautos da moral.

 

Compreendia-se estes privilégios conferidos aos então Digníssimos nobres das monarquias pré-absolutistas, e alargados com o absolutismo já na Idade Moderna, como saudáveis e justos, já que os Camponeses, dentre outros considerados como trabalhadores inferiores, como construtores, comerciantes, artesãos e adjacências, “não teriam uma responsabilidade legal e moral (o que para o período era redundância, já que a moral era nitidamente coercitiva, a exemplo dos Tribunais da “Santa” Inquisição)”, de defenderem a coroa, que era compreendida como o próprio Estado.

 

A SOBERANIA do Estado pertencia ao próprio Rei, daí a ideia de chamá-lo SOBERANO. Pensamento, este, refutado posteriormente com o advento da Revolução Francesa inspirada na ideia de LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE, que compreende a SOBERANIA como apenas mais um dos Elementos do Estado, e que este deveria pertencer ao seu Elemento mais importante que é o POVO, eis, então, a ideia de IGUALDADE.

 

O famoso “Faça o que eu digo e não faça o que eu faço”, em nossa cultura euro-tupiniquim, está mais relacionada à ideia de ESCRAVIDÃO, já que no Brasil, acirra-se o comportamento feudalista medieval, ressurgindo aqui, esta imagem já então abolida no contexto europeu cristão da época.

 

O ESCRAVO não é considerado um SER-HUMANO, e sim, uma COISA, um BEM SEMOVENTE, como um cavalo, um boi, uma cabra... UM CÃO!

 

E, pelo que vimos em larga escala acontecer em diversas instituições respeitáveis, ainda há muito deste que pode ser chamado de algo que vai além do mero comportamento, deste pensamento que fundamenta o que poderíamos até chamar, vulgarmente, de princípio, já que tão enraizado em nossa cultura:

 

“Aquele que detém cargos de comando se sente no direito de burlar a lei, muitas vezes, que ele próprio instituiu, com a justificativa de que ele pode, mas, se todos fizerem, vira DESORDEM”.

 

Talvez, por isso San Thomas More tenha sido decapitado, Sócrates condenado à morte por cicuta e Jesus Cristo crucificado. O exemplo de virtude incomoda mais que o autoritarismo e a mentira, pois estes últimos, justificados pela chegada ao poder, faz com que os homens incautos desejem o trono, não para bem governar, mas para poderem infringir a lei, muitas vezes imposta por eles próprios.

 

“Para os meus amigos, favores, para os inimigos a Lei!”.

 

Afinal... Quem foi que disse isso mesmo?

 

 

Graciliano Tolentino

 

Graciliano Tolentino
Enviado por Graciliano Tolentino em 01/02/2022
Reeditado em 01/02/2022
Código do texto: T7442179
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