O Olhar das Crianças

Faz um tanto de dias que estou ensaiando em escrever essa crônica. Protelei sei lá por que, inúmeras razões, entre elas a falta de motivação misturada com preguiça e outros afazeres que tem me deixado cansado fisicamente. Pensei também que o assunto pode ser mais uma das minhas ideias que parecem geniais, mas que deve ser tão comum que nem merecesse ser colocado em um texto.

Confesso que já me coloquei diante do espelho para conferir se na minha aparência existe algo diferente que possa despertar a curiosidade de alguém. Não vi nada demais, não tenho nada que fuja do padrão geral, sou tão comum como a maioria das pessoas.

Solitário em casa e não a fim de fazer nada rotineiro, no sábado atrasado à noite, resolvi dar uma volta na praça principal da cidade, onde sempre tem um movimento garantido. Sentei-me em um banco e fiquei observando o vai e vem das pessoas. Minha atenção se voltou para uma menina lourinha de uns seis anos mais ou menos, que vinha de mão dada com sua mãe, um tanto longe, até que passaram em frente ao banco onde eu estava. O curioso e o que me intrigou, foi o fato daquela menina, desde de lá de longe, passando em frente a mim e depois indo em frente, não ter tirado os olhos de mim. Quando eu a vi ela já me encarava, não desviou o olhar por nada até o quanto pode depois de ter passado. Atravessei a praça e sentei-me em outro banco. Um bom tempo depois, surgiu vindo para passar em frente onde eu estava, a menina e sua mãe, a mesma situação, o olhar fixado em mim do começo ao fim. Minha impressão é que ela me conhecia ou que via em mim algo incomum e muito chamativo. Passei a semana pensando em escrever sobre o assunto e não fiz.

Depois de ter cometido a bobagem de ir ao supermercado em um sábado de tarde em época de pagamento, na saída, na esteira rolante em direção ao segundo piso do estacionamento, eu num mundo de pensamentos, meu olhar se voltou lá para baixo e foi parar em um menininho de no máximo três anos, que me encarava e sorria. Ele lá embaixo, longe, me viu lá em cima e me encarou e sorriu, tive a sensação que ele puxou o meu olhar lá para baixo. O interessante é que ele com olhar fixado em mim parou de andar até chamar a atenção de toda a família que curiosos também olharam em minha direção.

Fossem somente esses dois acontecimentos certamente eu não teria me atinado em escrever sobre esse assunto, o caso é que isso se repete frequentemente. Sérias às vezes, como a menininha da praça, ou sorrindo como o menininho do supermercado, com muita frequência as crianças me encaram pra valer. O que será que elas veem que o meu espelho não me mostra?

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 07/02/2022
Código do texto: T7446490
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