INVÓLUCRO

Temos criado fantasias sobre o mundo a ponto dessas ilusões não serem suficientes para preencher os espaços, lacunas advindas de nossas fortes intuições induzidas pela barbárie do pouco a saber, estruturalmente, das nossas pequenas falhas internalizadas. Então, somos construídos baseadamente em noções distorcidas da realidade, sem que saibamos que tais distorções nos desvencilhou das nossas utopias, tão diminutas e tão abrangentes. Temo ser imenso demais para caber em mim; amedronta-me pensar na grandiosidade de perpetuação equivocada.

É grande o martírio, veículo perpétuo dessas noções do tempo necessário a refletir.

Demanda tempo demais e temos cultuado menos tempo os nossos desesperos, nossas angústias internas. Paro e penso. Ah... Suspiro sem querer, entre um copo de café e outro, ainda desdobrando letras que não acabam, martirizando os aspectos concernentes aos poucos desejos ainda restantes. E como desejei tantas vezes benesses impossíveis, descabidas naqueles momentos, e sim, o impossível sempre atraiu meus instintos, igual animal à procura da sua presa. Faltava-me ousadia na prática, mas, dentro do meu corpo morava todo o processo, algum diálogo entre personalidades incompreensíveis.

Se soubessemos o quão pequeninos somos sonhariamos menos, amariamos mais e presumiriamos cautelosamente nossas ações. No entanto, estamos fadados a permanecer gigantes iguais aos prédios que costumamos admirar seus tamanhos cortando avenidas povoadas de carros velozes, prontos a quebrar os ossos de quem ousadamente atravessar seu caminho sem olhar o sinal. Era o caminho o rumo indefinido dos desacordos entre alma e corpo, corpo e carne, amor e ternura, amor e química voluptuosa. Saberíamos melhor quem somos, de onde viemos e quais nossas companhias teriam o prazer do compartilhamento de nossos segredos mais íntimos, das nossas loucuras mais doces e dos nossos maiores atos de humanidade caso essa fosse praticada. Porém, seria mentira ir contra aquilo já estabelecido, pecado imperdoável.

Temo não ser forte o suficiente para caber na minha pequena consciência corpórea, desdobramentos de alma ainda perdida do locus correto a caber. Temo mais ainda ser indestrutível e me tornar implacável. Eu sei apenas das boas memórias adaptadas nesse mundo ruidoso, nessas profusões corrosivas que minam nosso orgulho singelo de sermos amigos dos reflexos daqueles espelhos d'água presentes no quintal arbóreo de nossas mansões criadas apenas para caber em algum lugar debaixo da pele.

Hivton Almeida
Enviado por Hivton Almeida em 11/02/2022
Reeditado em 11/02/2022
Código do texto: T7449941
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.