Hoje giramos nossa vida em torno do sexo? Com tudo muito fácil gastamos nosso tempo tentando transar? O relacionamento está ficando obsoleto?  Ou perdemos o controle com tanta liberdade e não estamos sabendo o que fazer com ela? Saudades do tempo em que as coisas eram mais difíceis: a paquera, a primeira dança, o beijo roubado e até da primeira briga. Será que o sexo adquiriu uma importância maior do que ele realmente tem?

          Como eu me vejo no mundo de hoje? Não sei se tenho uma resposta para essa pergunta.  Talvez um cara inteligente, com senso de humor, gosto de um bom papo e por que não romântico. A liberdade que a minha geração tanto lutou para conquistar tornou-me ultrapassado? É estranho que no mundo da internet onde a busca pela educação e pela cultura está tão fácil, nunca houve tantos jovens desinformados e despreparados para a vida.

          Há pouco tempo, em um encontro, abri um vinho, tentei conversar, ser romântico e ouvi o seguinte: vamos direto ao ponto? Não tenho muito tempo. Foi a coisa mais brochante que ouvi nos últimos tempos. Parecia que não estava em minha casa, mas em um cabaré onde tempo é dinheiro. Em dois minutos ele estava nú na minha frente. Aí pensei: como dizer a um homem bonito, completamente nú, que eu não o queria mais? Eu disse. Não sei porque eu fiz isso, mas fiz. Às vezes não preciso de motivos para fazer alguma coisa, apenas faço. Sigo meu instinto e ponto final. Claro que depois tomei a garrafa de vinho sozinho me perguntando se tinha feito a coisa certa. Preferi beber e não aprofundar muito meus pensamentos.

          Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro, fila da starbucks, esperando meu vôo para Brasilia. Como sempre estou enrolado procurando minha carteira para pagar meu café e eis que um senhor, mais ou menos da minha idade, muito sexy, que estava atrás de mim, paga o meu café. O certo seria eu recusar não é? Em uma voz grossa, mas macia ele falou: Permita-me. Tentei dizer que não precisava mas ele continuou: não se preocupe você vai me pagar de volta. Consegui falar: claro, eu pago o seu. Ele foi direto: não precisa, apenas me dê o prazer de sua companhia.

          Eu não estava acreditando no que estava acontecendo, mas fomos para uma mesa. A conversa fluiu fácil e não estávamos no mesmo vôo, mas ele mora em Brasília Uma semana depois, abri um vinho, acendi uma vela, fiz até um jantarzinho, o primeiro beijo foi roubado e as peças cairam devagar. Que luxo hein? Tivemos uma noite das antigas. Ele não dormiu na minha casa, mas não teve pressa de sair.

          O mundo não é perfeito e eu admiro a capacidade que as pessoas hoje tem de serem explicitas, principalmente com a vida sexual, mas não querendo ser moralista um pouco de dificuldade também é bom e tudo fica mais gostoso quando você consegue.

José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 14/02/2022
Reeditado em 17/02/2022
Código do texto: T7452250
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