PRIMEIRA VIAGEM

Dois homens do campo, acostumados a fazer suas viagens rotineiras montados a cavalo, precisaram viajar de ônibus pela primeira vez. Iriam visitar parentes que estavam internados em um hospital de uma cidade grande que ficava um pouco distante do vilarejo rural onde moravam.

Devido a urgência dos acontecimentos, eles não tiveram tempo para preparar seus farnéis como sempre o faziam quando precisavam se ausentar do vilarejo, mormente quando saiam para pescar ou para trabalhar nas propriedades circunvizinhas e, por isso, estavam ali, pela primeira vez, naquele coletivo, com a cara e a coragem e com um pouco de fome.

Precisariam,  evidentemente, ingerir alguma comida tão logo o motorista parasse o ônibus, desde que fosse um alimento consistente e, de preferência, um pouco diferente daquele cardápio trivial servido nos botecos do vilarejo onde moravam.

Após o motorista guiar o ônibus sem parar por pouco mais de três horas, eles desembarcariam bem famintos em um desses restaurantes modestos de beira de estrada, ocasião em que o motorista avisou: 

- Atenção senhores passageiros. Teremos 30 minutos para nossa refeição.

Sem titubear, os dois viajantes novatos desceram do ônibus e já pediram carne assada com farinha. Para surpresa de ambos a carne assada já tinha acabado e não tinha nem feijão com arroz com carne cozida para saciar um pouco da fome que os perseguia.

Por iniciativa do dono do restaurante, eles compraram umas porções contendo brioches caracol com chocolate e uns pedaços de pizza, aquela famosa calabresa restodontê, que à primeira vista mais parecia com um alimento de um passado um pouco distante.

 Independentemente do aspecto meio estranho dos brioches e da pizza  servidos pelo empregado do restaurante, os viajantes precisavam se alimentar, pois como diz um adágio popular “saco vazio não consegue ficar em pé” e procuraram abrigar-se em um espaço mais tranquilo do restaurante.

Passado o tempo determinado para a refeição dos passageiros, o motorista ligou o motor do ônibus e acionou a buzina chamando todos para seguirem viagem e aqueles dois homens do campo, nervosos que estavam, ainda nem tinham começado a comer.

O mais velho deles, procurou fazer algumas perguntas ao mais moço, que sem entender direito o que seu amigo dizia, devido ao barulho provocado pelo motor e pela buzina do ônibus, respondeu:

- Não precisa se preocupar com a comida. Eu mesmo farei isso por você...

Apressado, pegou os brioches e os pedaços da pizza calabresa restodontê que ainda estavam intactos em um prato sobre a mesa, colocou tudo numa sacola plástica e saiu murmurando:

- Acho que você está com fastio, amigo... Quanto a mim, faminto como estou, tenho certeza de que irei saborear toda esssa comida, sem pressa, durante todo o tempo que ainda nos resta dessa viagem...

Ato contínuo, entraram muito ansiosos no ônibus cujo condutor já estava pronto para continuar a viagem e se acomodaram nas suas respectivas poltronas.