Ex Libris*

– Senhor! Sou cego a Ti! Sou surdo a Ti!

– Não. Tu me criastes e me seguistes desde então. Teu coração bate e, em nos intervalos de cada batida, eu falo. Dito os passos que tu haverás de dar. Rumo ao teu Destino.

– Senhor... Eu não me encontro mais! Eu não sei mais quem sou, Senhor, em meio à multidão!

– És um só e, ao mesmo tempo, todos. Vive nos outros e eles em ti. São parte de um rebanho. Não podem se segregar. É um ato de autocondenação.

– Senhor! Faz-me ver, Senhor! Faz de mim tua ferramenta!

– Eu Sou tua Ferramenta. Tu és Um e Um são Três. Edifica tua casa entre teu Coração e tua Alma.

O homem para. Respira fundo. Está sozinho no meio da Infinita Escuridão. E se lembra do que ouvira no dia anterior:

– Eu enxergo na Escuridão.

– Meu povo vive nela.

Reflete – sem pensamentos, sem se preocupar, sem o menor sinal de desejo. E se vê em pé. Diante de um caminho enorme. Com uma fagulha, uma centelha, que parece guiá-lo para seu Destino.

O Silêncio é Líder e Mundo nesse lugar. Possuir Silêncio é ser Dono de Si Mesmo agora. Esse direito ninguém há de tirar de ti.

E numa língua há muito não ouvida, falada ou escrita, uma mensagem aparece:

"Você já conhece o Caminho."

Nota

* A inspiração para essa crônica me veio de excertos do filme "O Livro de Eli", com Denzel Washington no papel do protagonista.