O que fala e o que escuta

Tenho alguma inveja de quem sabe falar bem, de forma clara e com eloqüência na medida certa. A dificuldade que tenho para me expressar oralmente às vezes me deixa estupefato. É por isso que tenho o costume de escutar bastante, e falar pouco mais que o necessário. Meus problemas começam com a falta de concentração na formulação do pensamento que irá virar fala, e vão até o terror da língua presa, que me dá uma pequena frustração em pleno ato da fala, quando as palavras saem da minha boca. É por isso que muitas vezes encurto frases e acabo inibindo certos argumentos que poderia expressar.

Pior do que falar pouco, certamente é falar demais. Há quem consiga falar quase 10 palavras por segundo, pelo simples prazer de não dizer nada. Estes ainda costumam se expressar sempre em alto som, imaginando sempre grandes platéias a lhes ouvir. É quase impossível ficar indiferente a eles, em qualquer ambiente.

Porém, o que consegue ser ainda mais terrificante é a intrínseca ligação entre o vício da tagarelice com a inabilidade de escutar o que vem do outro. Acaba em frustração qualquer tentativa de diálogo com uma pessoa que ama discursar. Nestas conversas, em que não há interlocução, me sinto uma mera paisagem no ambiente de quem está com a palavra.

É por isso que prezo, inestimavelmente, os que sabem conversar. Que geralmente são aqueles que têm o que dizer, e quando não têm conseguem curtir um instante de silêncio, ou apenas ouvir o que seu interlocutor tem a dizer. Conversar deve ser sempre uma troca, não importa se o outro tenha a língua presa.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 21/11/2007
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