"Como folhas ao vento..."

Eu provavelmente deixarei esse mundo como uma daquelas pessoas a quem o tempo não existe. Vou continuar o mesmo Estrangeiro (Stranger, Outsider, Foreigner) que sou desde que nasci. A incompreensão do e pelo mundo traz algumas marcas em meu coração. O tempo – reitero isso – não existe. Eu me recordo de eventos datados de aproximadamente quatro décadas atrás como se fossem há segundos. Bem como de momentos recentes como se fossem datados de antes de eu nascer. Minha percepção do tempo é diversa daquela das pessoas "normais". Eu, de algum modo, não sou normal – Salvador Dalí dizia que a diferença entre ele e um louco é que ele não era louco. A diferença entre um louco e mim é que o louco não sabe que é louco. Não consciência de seu "desvio da curva do socialmente normal, aceitável" e toda essa pragmática besta de plantão...

Evoco o discurso (adaptado, pois fora do original) do replicante Roy Batty, interpretado por Hutger Hauer em Blade Runner (1982):

"Eu vi coisas que vocês não acreditariam. Ataques a embarcações contra o fogo do ombro de Orion. Eu assisti os raios C glitter no escuro perto do Portão de Tannhäuser. Todos esses momentos serão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer."

Estou a cerca de vinte dias de testemunhar os primeiros 30 anos após meu primeiro e único contato com a Falecida (março/1992). Mas nossos encontros – seis ao todo – jamais se perderão como lágrimas na chuva. Eles está escritos na Eternidade. Guardados no Éter –

(Ué... Onde foi parar o narrador? Suponho que ele tenha voltado no tempo. Como folhas ao vento – )

; )