GUIZOS DO PRAZER

Daí os amantes se untaram, se benzeram, se lambuzaram.

Se refizeram num só.

Assim perderam sua identidade, seu código genético,

sua alma original, seu chão original.

E foram em frente enclausurados um no outro,

se embrenhando na melhor jornada de suas vidas,

Nesse frenesi alucinado, viraram do avesso os sonhos,

gozos, galopes e zunidos.

Misturaram suores, voos castigados, desfechos proibidos.

Daí os amantes se enervaram num rodopio estranho,

assustado, arrepiado.

Alforriado.

E se perceberam vestidos, escondendo a nudez que outrora

os cerzia, os embalsamava, os arrepiava até não poder mais.

Aquele cheiro proibido abraçou todo ar e destampou ganas

que jaziam desarmadas, desanuviadas.

Então os amantes destroçaram com guizos do prazer

aquelas tarântulas trancafiadas a 7 chaves.

E foram dormir, esquecendo seus uivos, agora frangalhados suspiros.

Suspiros que nunca mais cambaleei,

nunca mais amamentei,

nunca mais.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 04/03/2022
Reeditado em 04/03/2022
Código do texto: T7465412
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