Um outro Fabiano e uma outra baleia

Já morava em Alagoas, quando li "Vidas Secas", do grande escritor alagoano Graciliano Ramos. Transportei-me ao meu sertão da Bahia, onde conheci um caçador, que tinha uma cachorra de nome beleia, que lhe servia de caçadora de peba e preá. Seus instrumentos resumiam numa rudimentar espingarda, um machado, um bornal e uma cabaça, esta como recipiente para o mel de uruçu, encontrado na imburana ou imbuzeiro. A abelha uruçu, por não ter ferrão, não provoca picada, pelo que o caçador facilmente lhe rouba o mel.

Aquele caçador, mesmo morando na beira do rio São Francisco, confessava não gostar de tomar banho. Pouco afeito à higiene, imaginemos a limpeza daquele mel, cujos favos eram exprimidos com as mãos e ali ele não tinha água.

E, entre o peba, o preá e o mel, este era o mais encomendado pelos seus compradores. Para o sertanejo, era mais remédio do que alimento. Ainda hoje, pela sua especialidade, é o mel mais caro, quando comparado a outros.

Aquele caçador, com sua cadela baleia, transportados para o "Vidas Secas" de Graciliano Ramos, lembram-nos seu principais personagens "Fabiano com sua beleia."

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 08/03/2022
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